Animais geneticamente modificados
Pesquisadores portugueses descobriram que o ambiente social em que o indivíduo se desenvolve pode reverter efeitos genéticos do seu comportamento, um dado particularmente importante para experimentos envolvendo animais geneticamente modificados.
A equipe analisou os comportamentos associados à oxitocina, ou ocitocina, que por muito tempo foi conhecida como "hormônio da felicidade" - até se descobrir que na verdade o tal de hormônio do amor tem duas caras.
De fato, os novos experimentos com animais mostraram que os comportamentos ligados à oxitocina podem ser revertidos apenas alterando-se o grupo social com que o indivíduo interage.
Em termos mais simples, os animais "detectam" de alguma forma as diferenças genéticas dos outros, o que influencia seu comportamento - algo que hoje não é levado em conta nos experimentos científicos.
Efeitos sociais genéticos
As interações entre indivíduos da mesma espécie moldam muitos aspectos da sua biologia, incluindo o comportamento social. Os efeitos sociais genéticos ocorrem quando o fenótipo de um indivíduo - suas características observáveis - é afetado pelas características genéticas dos outros indivíduos da sua espécie.
Estes efeitos são comuns e implicam consequências para a história evolutiva ou o estado de saúde de muitas espécies de animais.
Diogo Ribeiro e seus colegas do Instituto Gulbenkian (Portugal) usaram o peixe-zebra (Danio rerio) como organismo modelo, tentando perceber a forma como os efeitos sociais genéticos afetam a interação entre o indivíduo e o seu cardume. Para isso, eles usaram dois tipos de peixe-zebra: uns semelhantes aos encontrados na natureza e outros nos quais o gene da oxitocina foi removido.
Os resultados do estudo mostram que tanto a preferência como a integração e a influência sociais mudam dependendo da presença ou ausência da oxitocina no cardume.
Contrariamente, a genética do indivíduo é o que determina se este consegue criar memórias e por isso discriminar entre cardumes diferentes. "As diferenças genéticas do grupo social interagem com as do indivíduo durante a aquisição de comportamentos sociais e durante o seu desenvolvimento, podendo em alguns casos reverter características comportamentais associadas à oxitocina", explicou o professor Rui Oliveira.
Edição genética
Estes resultados têm especial interesse quando se projetam modelos experimentais com edição de genes. A edição genética faz parte do conjunto de ferramentas mais essenciais para responder a questões fundamentais da biologia e da medicina.
No caso da biologia comportamental, através da alteração da atividade de certos genes e análise dos seus efeitos, os cientistas conseguem estabelecer relações causais entre genes e comportamentos.
"Os nossos resultados realçam a necessidade de maior cuidado no desenho e interpretação de estudos que usam organismos geneticamente modificados, já que as diferenças comportamentais observadas podem ser consequência de efeitos sociais genéticos e não da edição genética em estudo," acrescenta Rui Oliveira.
Ver mais notícias sobre os temas: | |||
Genética | Comportamento | Cobaias | |
Ver todos os temas >> |
A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.