Mundos parciais
Os diversos mundos, formados por subsistemas regionais com dinâmicas específicas, provenientes da interação entre os países que os integram, além das distintas simetrias e assimetrias de uma sociedade internacional heterogênea e planetariamente interligada, tornam difícil compreender a complexidade e fazer projeções sobre os cenários futuros do mundo atual.
Entretanto, buscar entender essa complexidade é fundamental para esclarecer o espaço dentro do qual se move a política externa dos países e o horizonte de convivência coletiva em um mundo globalizado.
A avaliação foi feita por Celso Lafer, presidente da FAPESP, na conferência que proferiu em 26 de setembro no salão nobre da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
O evento abriu o ciclo de quatro conferências promovidas pela Pró-Reitoria de Pesquisa da USP sobre os "Desafios da Globalidade", para discutir o tema que é de grande relevância e comum às áreas de ciência política, direito, relações internacionais e economia.
Assimetrias internacionais
Na primeira conferência, sobre "As assimetrias da sociedade internacional", Lafer fez uma exposição geral sobre o tema geral do ciclo, que também será discutido em mais três encontros.
Em sua conferência, Lafer abordou os elementos determinantes do quadro de assimetria econômica, política e social que caracteriza a sociedade internacional e avaliou de que modo esse quadro afeta as dinâmicas inerentes aos processos de globalização e é por eles afetado.
Segundo ele, entender como funciona a "máquina do mundo", que é, por excelência, o campo de estudo das relações internacionais, é um indispensável ingrediente de conhecimento para a condução da política externa de um país.
Porém, para isso, não é possível contar com o apoio de leituras de autores clássicos ou de outras que desembocam em dicotomias como idealismo versus realismo, além de metáforas como a da balança do equilíbrio do poder.
"Hoje, não existem mais espaços passíveis de viver em efetivo isolamento. A 'máquina do mundo' está se internalizando na vida dos países, com distintas modalidades e impactos, dependendo das características das sociedades, dos estados e das regiões em que estão inseridos, e alterando, com renovada profundidade, a maneira como o espaço e o tempo penetram no cotidiano das pessoas", disse.
Complexidade da globalização
Para avaliar a complexidade atual do processo de globalização, Lafer fez uma análise dos cincos grandes blocos de temas da atual agenda internacional propostos por Andrew Hurrell, professor de relações internacionais da Universidade de Oxford, em seu recente livro On global order.
O primeiro bloco trata dos impactos das políticas de identidade e reconhecimento que surgiram durante a Guerra Fria e colocaram em discussão a estabilidade da ordem do sistema internacional e a própria integridade territorial dos Estados, levando a processos de separação entre eles.
Alguns exemplos são a desagregação da União Soviética e da Iugoslávia, o problema dos curdos no Oriente Médio, as aspirações dos bascos na Espanha, de Quebec, no Canadá, ou do Tibete em relação à China.
Já o segundo bloco envolve os desafios que surgiram em 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas. O documento propôs a construção de uma sociedade internacional constituída não só de Estados soberanos, mas de indivíduos livres e iguais.
"O direito violado em uma parte do mundo passou a ser sentido em todo o mundo, o que é um sinal positivo do progresso da convivência coletiva humana e uma das facetas positivas da internalização do mundo na vida dos países, trazida pelo processo de globalização e do direito internacional que foi sendo elaborado a partir dele", avaliou Lafer.
O terceiro bloco envolve os problemas da guerra e da violência, intensificado pelo permanente temor das armas de destruição em massa. Por sua vez, o quarto bloco trata do desafio da gestão de uma economia globalizada em um mundo caracterizado pela desigualdade social.
Por fim, o quinto bloco aborda o desafio do desenvolvimento sustentável em um mundo globalizado, que tornou temas ambientais, como as mudanças climáticas, globais.
"Nenhum dos grandes temas ambientais, como a biodiversidade e as mudanças climáticas, são passíveis de encaminhamento sem a solução e a presença do Brasil", destacou Lafer.
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