Zika contra câncer
Pesquisadores brasileiros deram um passo importante no desenvolvimento de uma terapia que usa o vírus zika para combater tumores avançados no sistema nervoso central.
Em 2018, a mesma equipe comprovou que o zika pode curar tumores no sistema nervoso de camundongos. Desta vez, como é praxe nas pesquisas desse tipo, eles utilizaram animais maiores, cachorros com idade avançada e tumores espontâneos no cérebro.
O resultado foi ainda melhor do que o esperado.
"Observamos uma reversão surpreendente dos sintomas clínicos da doença, além de redução tumoral e aumento de sobrevida - e com qualidade, que é o mais importante. Além disso, o tratamento foi bem tolerado e não houve efeitos adversos. Estamos superanimados com os resultados," contou a professora Mayana Zatz, do Instituto de Biociências da USP.
No modelo de camundongos, usado anteriormente, a formação de tumores humanos é induzida em laboratório, o que só é possível em animais imunossuprimidos. Uma das principais vantagens deste novo experimento foi a possibilidade de avaliar o efeito da terapia em animais com o sistema imunológico ativo.
"Os resultados confirmam que a terapia atua por meio de dois mecanismos. Por um lado, o vírus infecta as células tumorais, começa a se replicar e acaba levando-as à morte. Por outro, ativa o sistema imune para a presença do tumor. A infecção desencadeia uma reação inflamatória e células de defesa começam a migrar para o local," contou a pesquisadora Carolini Kaid, responsável pelos experimentos.
Imunoterapia segura
Os tumores do sistema nervoso central costumam não responder bem à imunoterapia, a controversa técnica que ganhou o Nobel de Medicina em 2018. Isso porque a barreira hematoencefálica, estrutura que visa proteger o cérebro de substâncias potencialmente tóxicas presentes no sangue, dificulta a migração das células de defesa para o local.
Embora tipicamente a imunoterapia mexa perigosamente com o sistema imunológico, as análises feitas no tecido cerebral dos cães indicaram a presença de linfócitos T, macrófagos e monócitos infiltrados na massa tumoral.
"Essas análises também mostraram a presença do zika apenas nas bordas do tumor. Nenhuma outra célula do cérebro foi afetada. Esse é um achado muito importante, pois nos dá mais confiança de que o tratamento é seguro," disse Carolini.
"Aprendemos muito com esses três cachorros e agora pretendemos iniciar um novo estudo pré-clínico com um número maior de animais. Um dos objetivos é descobrir a dose ideal do vírus para o tratamento. Se funcionar será uma esperança de tratamento tanto para os cães quanto para nós. Mas para isso precisamos de mais verbas e buscamos parcerias," disse a professora Mayana.
Outra equipe de pesquisadores brasileiros está testando o vírus zika contra o câncer de próstata.
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