Saxitoxina e zika
A presença de toxinas na água consumida pela população nordestina contribuiu para aumentar o número de casos de microcefalia associados à epidemia do vírus zika na Região Nordeste.
Essa é a conclusão da pesquisa desenvolvida em conjunto pelo Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
A descoberta esclarece uma das principais dúvidas sobre o surto de zika que assolou o país a partir de 2015: por que os efeitos foram maiores no Nordeste e por que bebês expostos ao zika em São Paulo não tiveram microcefalia.
Segundo o professor Stevens Rehen, o Brasil precisa rediscutir os níveis de toxinas e outras substâncias presentes na água considerados seguros para o consumo humano.
"A gente propõe nesse artigo que a água contaminada com saxitoxina deixou mais vulnerável uma determinada população do Nordeste e isso acabou levando ao nascimento de crianças com malformações graves no sistema nervoso. Talvez isso acabe se refletindo também em outras doenças. Então, o que a gente propõe é uma rediscussão em relação ao que é considerado seguro nas águas que são disponibilizadas para a população," disse ele.
Fator evitável
A equipe brasileira foi uma das primeiras no mundo a provar a relação do vírus zika com os casos de bebês recém-nascidos com microcefalia - malformação congênita em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada.
Após a comprovação, os pesquisadores começaram a investigar por que os casos eram mais frequentes no Nordeste do que em outras regiões do país.
"Surgiu a hipótese de que havia um cofator regional que fosse capaz de agravar as consequências da infecção. A nossa hipótese é que haveria um cofator ambiental evitável, capaz de exacerbar a toxicidade do vírus zika sobre o sistema nervoso em desenvolvimento," diz Rehen, e o novo trabalho comprova a existência desse fator, que pode ser evitado.
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