Sequenciamento do vírus da pólio
Nesta semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou emergência sanitária mundial diante do risco de contágio da poliomielite.
No Brasil, o último caso da doença transmitido por um poliovírus selvagem foi registrado em 1989, duas décadas após o início da política de vacinação contra a poliomielite.
Para manter essa doença no passado, o Brasil desempenha atividades permanentes de vigilância virológica.
O Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) colocou inclusive a genética em campo: os cientistas da instituição sequenciaram a última linhagem selvagem de poliovírus a circular no Brasil.
Com isto, dispõe-se agora de uma sequência genética que pode servir como elemento de comparação para facilitar o esclarecimento de casos que possam ressurgir no futuro.
A estratégia é especialmente relevante num momento em que o país se prepara para receber visitantes de todos os cantos do mundo durante os grandes eventos internacionais que se aproximam.
Ressurgimento da paralisia infantil
Quando o assunto é uma possível reemergência da paralisia infantil, dois caminhos preocupam os cientistas.
O primeiro é a possibilidade de, com tantas viagens intercontinentais, o vírus pegar carona na intensa circulação de pessoas.
O segundo é bem mais complexo: como a vacina mais comum na atualidade é baseada em um vírus atenuado, é comum que os indivíduos imunizados excretem os vírus pelas fezes.
A característica é positiva para o efeito de imunização do conjunto da população pois, ao entrar em contato com crianças não vacinadas, em áreas com saneamento básico precário, por exemplo, o vírus atenuado acaba provocando a imunização de um maior número de indivíduos.
Ao mesmo tempo, porém, existe o risco de que este vírus vacinal atenuado sofra mutações que o tornem neurovirulento.
O mapeamento do genoma da linhagem brasileira - a última linhagem a ser detectada no país - serve também para estudos de epidemiologia molecular: é importante conhecer este genoma para identificar a relação que o vírus selvagem que circulava no Brasil tinha com os de outros lugares do mundo.
"No caso de uma reincidência da poliomielite aqui, poderemos apontar se a linhagem é local ou se foi importada, seja ela selvagem ou de origem vacinal", afirma Edson Elias da Silva, chefe do Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz.
"De qualquer forma, é fundamental estar vigilantes e preparados para agir", afirma o pesquisador.
"Devido ao trânsito intenso de pessoas pelo globo, o risco de importá-lo é real. Se a população não tiver uma cobertura vacinal excelente, as linhagens selvagens podem ser reintroduzidas em países que já haviam erradicado o vírus", conclui.
Poliomielite
A poliomielite é uma doença infecto-contagiosa aguda. Não existe cura e o vírus causador da doença se multiplica no intestino.
A transmissão ocorre pela ingestão de água e alimentos contaminados com fezes (contato fecal-oral) e, por isso, crianças até os quatro anos, que ainda não adquiriram hábitos de higiene, correm mais risco de contrair o poliovírus.
Apenas 1% dos infectados desenvolve a forma paralítica, decorrente da migração do vírus para o sistema nervoso central. As sequelas podem ser permanentes e, quando há comprometimento bulbar o paciente pode morrer de insuficiência respiratória.
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