Primeiros testes
Uma nova vacina pré-clínica contra a malária vivax - forma da doença com maior distribuição geográfica e maior prevalência nas Américas - foi testada em camundongos e obteve 45% de eficácia, o que representa um importante avanço no desenvolvimento de alternativas de prevenção.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2015, parasitas da espécie Plasmodium vivax foram responsáveis por mais de 13 milhões de casos de malária em todo o mundo e ainda não há um imunizante disponível contra esses patógenos.
A estratégia da nova vacina se baseia em desenvolver versões recombinantes de proteínas encontradas no esporozoíto - forma do parasita presente na glândula salivar do mosquito transmissor e que infecta o ser humano. A proteína em questão é homóloga à que está sendo usada em outra vacina, em estágio mais avançado de desenvolvimento, contra o Plasmodium falciparum, o parasita de malária mais comum no continente africano.
"Com base no sucesso dessa proteína de P. falciparum, pensamos em tentar algo parecido contra o parasita que acomete as Américas. Vê-se que na África a proteção também não é alta, de 30% a 40%, mas tem diminuído as formas graves da malária falciparum e atrasado o primeiro episódio de malária em crianças, reduzindo a mortalidade infantil", contou a professora Irene Soares, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP). A iniciativa de desenvolver uma vacina contra o P. vivax partiu de um grupo de pesquisadores do Centro de Terapia Celular e Molecular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Plasmodium vivax
O P. vivax tem particularidades que dificultam o desenvolvimento de vacinas. Diferentemente do parasita mais comum do continente africano, a proteína-alvo do P. vivax tem três formas alélicas, ou seja, três variantes na natureza chamadas de VK210, VK247 e P. vivax-like. Trabalhos prévios realizados nas décadas de 1990 e 2000 mostraram que as três variantes circulam pelo Brasil, com prevalência da VK210.
A proteína circumsporozoíta (CS), a mais abundante na superfície do parasita, é velha conhecida da ciência, tendo sido caracterizada pelos pesquisadores brasileiros Ruth e Victor Nussenzweig, da Universidade de Nova Iorque, na década de 1960.
A molécula está envolvida nos estágios iniciais de invasão de células do fígado de mamíferos infectados. Isso faz com que ela seja um alvo importante para anticorpos e outras células do sistema imunológico.
"Como a proteína do P. vivax tem três formas alélicas, fizemos também uma versão híbrida com essas três variantes reunidas. Ela contém um pedaço de cada uma. Caso a vacina fosse baseada em uma única variante, ela não protegeria contra as outras e não teria boa abrangência", contou Irene Soares.
De acordo com a pesquisadora, ainda faltam etapas a cumprir até que a vacina se mostre comercialmente interessante e possa ser uma alternativa contra o P. vivax. O imunizante ainda precisa, por exemplo, ser testado em outros mamíferos antes da etapa de ensaios clínicos em humanos.
A candidata à vacina contra o P. falciparum - chamada RTS,S/AS01 - já passou por testes clínicos de fase 3 - a pesquisa clínica é usualmente classificada em quatro fases - e recebeu uma sinalização positiva da OMS para um estudo piloto de implementação. De acordo com Irene Soares, a vacina não será para uso geral na população: "Talvez para crianças e pessoas não imunes, como viajantes que vão para a região endêmica. É uma forma de não ter essas formas graves da doença."
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