A privacidade final
Embora você esteja cercado pela tecnologia e provavelmente esteja ciente dos riscos que essa tecnologia representa para sua privacidade, também sabe que você possui seu próprio firewall intransponível, que nenhum hacker consegue penetrar: o seu cérebro.
A menos que você escolha compartilhar seus pensamentos, eles permanecerão sempre privados.
Mas por quanto mais tempo? Cada vez mais, uma combinação de escaneamento cerebral e inteligência artificial está abrindo a caixa preta do nosso cérebro, reunindo sinais neurais e engenharia reversa para recriar pensamentos básicos. Por enquanto, essa tecnologia está limitada à visão - mostrando se você está olhando para A ou para B a partir de sua atividade cerebral - mas, em princípio, não há razão para que o conteúdo total de nossas mentes não possa futuramente ser revelado.
Desta forma, esta linha das pesquisas científicas no campo das neurociências inevitavelmente levanta medos sobre a invasão final da privacidade: a leitura da mente, ou dos pensamentos. Não é difícil imaginar algum tipo de dispositivo que possa simplesmente ser apontado para a cabeça de alguém para extrair seus pensamentos.
Longe da praticidade
Se não é difícil de imaginar essa tecnologia, por outro lado é extremamente difícil torná-la prática. Hoje, a parte da varredura do cérebro é feita por ressonância magnética funcional (fMRI). Isso requer um equipamento extremamente grande e caro e, fundamentalmente, o consentimento total do "cérebro" que está sendo escaneado.
Mas a fMRI ainda é um dispositivo bastante grosseiro para leitura mental e muito criticado dentro da própria comunidade científica porque produziria apenas belos desenhos coloridos da atividade cerebral, mas quase nada de dados reais - além disso, a forma como o equipamento é usado faz com que vários estudos com base na ressonância magnética funcional estejam incorretos.
Há outras técnicas de imageamento cerebral, mas nenhuma pode ser facilmente transformada em um dispositivo portátil discreto o suficiente para ser usado sem o consentimento da pessoa. O mais simples, o eletroencefalograma (EEG), tem que ser colocado como um boné ou capacete e é lastimavelmente impreciso, a menos que a pessoa consiga ficar imóvel como uma estátua.
Leitura da mente
No entanto, não devemos descartar a leitura mental como sendo confinada para sempre às condições controladas de laboratório. O lado inteligência artificial da equação pode virar o jogo: com treinamento suficiente, talvez esses programas possam aprender a extrair sinais úteis de um traço de EEG cheio de ruído.
Mesmo hoje, uma combinação de fMRI e inteligência artificial poderia ser desenvolvida para usos limitados, como acessar os pensamentos de pacientes em um estado minimamente consciente. Isso já é possível hoje até certo ponto, e já é controverso.
Da mesma forma, pode ser possível desenvolver testes semelhantes a polígrafos para pessoas acusadas de crimes, para avaliar o que realmente sabem. Novamente, isso tem precedentes e é extremamente controverso. Uma década atrás, uma empresa com sede nos EUA, chamada Cephos, começou a vender varreduras de ressonância magnética funcional para os réus. Ao mesmo tempo, tribunais da Índia começaram a aceitar evidências de uma técnica de varredura cerebral extremamente controversa, chamada análise de assinatura de oscilação elétrica cerebral (BEOS).
A Cephos parou de vender as varreduras em 2010, depois que um tribunal decidiu que a tecnologia não era aceitável, mas outras empresas começaram a oferecer coisas semelhantes; e as varreduras cerebrais BEOS ainda estão sendo usadas no sistema jurídico indiano.
Assim, ainda que a leitura mental para vigilância em massa não esteja à vista em um futuro próximo, mesmo as aplicações limitadas são preocupantes. Esta é uma caixa preta sobre a qual a sociedade deve pensar muito, ponderando se irá permitir que seus cientistas trabalhem em sua abertura.
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