16/04/2012

Tecnologia permite monitorar atletas em esportes complexos

Com informações da Agência Fapesp
Tecnologia permite monitorar atletas em esportes complexos
O conhecimento sobre a contribuição dos diferentes sistemas energéticos do corpo humano no fornecimento da energia requerida por um atleta para a prática de um esporte pode contribuir para aprimorar seu treinamento e aumentar sua aptidão física.
[Imagem: Ag.Fapesp]

Monitoramento de atletas

Pesquisadores da USP descobriram uma forma de monitorar o corpo durante a prática de esportes sem movimentos padronizados, como o judô, o que poderá ajudar a otimizar o desempenho dos atletas individualmente.

O conhecimento sobre a contribuição dos diferentes sistemas energéticos do corpo humano no fornecimento da energia requerida por um atleta para a prática de um esporte pode contribuir para aprimorar seu treinamento e aumentar sua aptidão física.

Isto é relativamente fácil de ser feito com praticantes de esportes como ciclismo e corrida, cujos movimentos repetitivos e padronizados que fazem durante um treinamento ou competição podem ser reproduzidos em laboratório em equipamentos como bicicletas e esteiras ergométricas.

Mas a avaliação é bem mais complexa de ser feita com atletas de esportes cujos movimentos são imprevisíveis e dependem da ação de seus parceiros ou oponentes, como as artes marciais e os esportes coletivos.

Monitoramento sem fios

Ao utilizar um equipamento portátil, que permite ao atleta se movimentar sem ter fios ligando-o a um computador, pesquisadores da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da Universidade de São Paulo (USP) conseguiram determinar a contribuição dos diferentes sistemas energéticos durante o treinamento de judô.

As análises revelaram que a contribuição do sistema de fosfagênios (substratos estocados na musculatura e prontamente disponíveis para serem degradados e transferir energia para contração muscular) é crucial para os atletas.

E que a participação do sistema aeróbio (que depende do consumo de oxigênio para converter alimento em energia) é maior do que o esperado.

"Quando se tem um melhor conhecimento do que ocorre com o atleta ao realizar determinadas ações em sua modalidade, é possível direcionar de maneira mais adequada o treinamento, realizando alguns ajustes fisiológicos e elaborando uma dieta específica para que ele atinja os objetivos almejados", disse Emerson Franchini, coordenador do projeto.

Sistemas energéticos do corpo humano

Franchini explica que o organismo humano possui três sistemas energéticos, sendo um oxidativo (que depende de oxigênio) e dois sistemas anaeróbios (que independem de oxigênio) - divididos em sistema glicolítico e sistema de fosfagênios -, que convertem alimento em energia.

"Os estímulos físicos realizados nos treinamentos esportivos têm o objetivo, basicamente, de melhorar o funcionamento de um ou mais desses sistemas, possibilitando aumentar o ritmo de transferência de energia - para que o atleta consiga realizar ações mais intensas - ou aumentar o estoque de energia - para que ele consiga manter a intensidade de um exercício por um período mais prolongado, dependendo da modalidade esportiva praticada", explicou.

No caso do judô, segundo o pesquisador, é necessária a combinação das duas estratégias, uma vez que a aplicação das técnicas na luta depende de uma intensidade física bastante elevada por um período muito curto de tempo.

"Se o atleta consegue transferir energia mais rapidamente em uma luta de judô, ele é capaz de realizar uma ação mais potente e, provavelmente, tem mais chance de obter sucesso na execução de um golpe", disse Franchini.

"Por outro lado, em uma competição em que o atleta pode chegar a seis ou sete lutas em um único dia, com cinco minutos de duração cada, sem considerar a possibilidade de prorrogação, é importante que ele também tenha uma capacidade elevada de manter a repetição do exercício", disse.

Gasto energético

De acordo com Franchini, é difícil fazer comparações entre o gasto calórico de um atleta do judô com o de outras modalidades esportivas, porque isto depende da intensidade do exercício e ainda há poucos dados sobre o gasto calórico em ações competitivas.

Entretanto, em comparação com outras modalidades de artes marciais, como o taekwondo, o pesquisador estima que o gasto energético de um atleta de judô seja maior em função da duração das lutas e da intensidade das ações.

"Em uma luta de judô, a todo momento há disputas de pegada, ações de puxar e empurrar o oponente e as paralisações são mais curtas. Já em outras modalidades, muitas vezes o atleta mantém uma distância intermediária entre ele e o oponente e as ações são de intensidade mais reduzida", comparou.

Um dos indicadores utilizados pelos pesquisadores para avaliar a intensidade das ações nas lutas de artes marciais é a relação esforço-pausa. Enquanto uma luta de taekwondo é caracterizada por esforços de, em média, 8 a 10 segundos, com 60 segundos de ações menos intensas, no judô os atletas realizam esforços de cerca de 20 segundos, seguidos de 10 segundos de intervalo.

"Isso também acaba resultando em algumas diferenças em termos de demanda energética", disse Franchini.

Ajuste no treinamento

Segundo os pesquisadores, o modelo que o grupo da USP utilizou para avaliar o gasto energético de atletas de judô já foi utilizado para estimar a contribuição dos sistemas energéticos em outras modalidades esportivas.

Com base na avaliação, os cientistas pretendem realizar alguns ajustes fisiológicos no treinamento de atletas de judô e comparar essas adaptações com outros métodos de treinamento já adotados pelos esportistas em suas rotinas normais de exercícios.

"Com base na compreensão mais clara do que ocorre com o organismo do atleta no momento em que ele treina, será possível desenvolver protocolos de treinamento mais eficientes do que os que existem hoje para melhorar a aptidão física", disse Franchini.

Os resultados da pesquisa foram publicados no Journal of Visualized Documents, de acesso aberto, que se autointitula o "primeiro videojornal científico". E ganharam destaque no site da revista Science.

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