Selfie mostra seu coração
Enviar uma "selfie" ao seu médico pode ser uma maneira simples e barata de detectar se você tem alguma doença cardíaca.
Esta foi a constatação de Shen Lin e colegas da Universidade União Médica de Pequim (China).
Eles criaram um algoritmo de aprendizado profundo, uma técnica de inteligência artificial, para detectar a doença arterial coronariana (DAC) analisando não mais do que quatro fotos do rosto de uma pessoa.
Embora o algoritmo ainda precise ser aprimorado para virar um aplicativo - e testado em grupos maiores de pessoas de diferentes origens étnicas para validação -, os pesquisadores afirmam que ele tem potencial para ser usado como uma ferramenta de triagem e diagnóstico para identificar possíveis doenças cardíacas em pessoas na população em geral ou em pessoas em grupos de alto risco. Sendo selecionadas pelo algoritmo, essas pessoas poderiam então ser encaminhadas para investigações clínicas adicionais.
"Até onde sabemos, este é o primeiro trabalho que demonstra que a inteligência artificial pode ser usada para analisar rostos para detectar doenças cardíacas. É um passo em direção ao desenvolvimento de uma ferramenta baseada no aprendizado profundo que poderá ser usada para avaliar o risco de doenças cardíacas, tanto em ambulatórios quanto por meio de pacientes que fazem 'selfies' para realizar sua própria triagem. Isso pode orientar testes diagnósticos adicionais ou uma visita clínica.
"Nosso objetivo final é desenvolver um aplicativo de autorrelato para comunidades de alto risco para avaliar o risco de doença cardíaca antes de visitar uma clínica. Isso pode ser um método barato, simples e eficaz de identificar pacientes que precisam de exames adicionais. No entanto, o algoritmo exige refinamento adicional e validação externa em outras populações e etnias," disse o professor Zhe Zheng, coordenador da equipe.
A saúde do coração em uma selfie
Já se sabia que certas características faciais estão associadas a um risco aumentado de doenças cardíacas.
Essas características incluem cabelos raleando, rugas, vinco do lóbulo da orelha, xantelasmas (pequenos depósitos amarelos de colesterol sob a pele, geralmente ao redor das pálpebras) e arcus corneae (depósitos de gordura e colesterol que aparecem como um anel opaco branco, cinza ou azul nebuloso nas bordas externas da córnea).
No entanto, é difícil mesmo para os médicos identificar e quantificar o risco de doenças cardíacas por esses detalhes. Assim, a equipe criou, treinou e validou o algoritmo de aprendizado profundo, com o programa "aprendendo" a medir as características faciais observando fotos de pessoas com e sem doenças cardíacas.
O algoritmo detectou corretamente a doença do coração em 80% dos casos (a taxa positiva verdadeira ou "sensitividade") e a doença cardíaca detectada corretamente não estava presente em 61% dos casos (a taxa negativa verdadeira ou "especificidade"). No grupo de teste, a sensibilidade foi de 80% e a especificidade de 54%.
Questões éticas
Um grande senão neste tipo de tecnologia é que o desenvolvimento de um programa de inteligência artificial capaz de diagnosticar uma doença cardíaca apenas analisando a foto de uma pessoa levanta questões éticas importantes, incluindo a possibilidade de uso indevido de informações para fins discriminatórios.
"A disseminação indesejada de dados confidenciais de registros de saúde, que podem ser facilmente extraídos de uma foto facial, torna tecnologias como a discutida aqui uma ameaça significativa à proteção dos dados pessoais, potencialmente afetando as opções de seguro [saúde e de morte]. Esses temores já foram expressos sobre o uso indevido de dados genéticos e devem ser amplamente revisados em relação ao uso da inteligência artificial na medicina," ponderaram Christos Kotanidis e Charalambos Antoniades, dois especialistas convidados pela Sociedade Europeia do Coração para comentar a inovação dos pesquisadores chineses.
Os autores do artigo de pesquisa concordam neste ponto: "As questões éticas no desenvolvimento e aplicação dessas novas tecnologias são de importância fundamental. Acreditamos que pesquisas futuras sobre ferramentas clínicas devem prestar atenção à privacidade, seguro e outras implicações sociais para garantir que a ferramenta seja usada apenas para objetivos médicos," disse o professor Zheng.
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