05/10/2009

Redes sociais e comunidades são caminho para prevenir uso de drogas

Lúcia Nórcio - Agência Brasil

Problema de relacionamento

O coordenador de Articulação de Políticas de Prevenção da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), Aldo Costa Azevedo, disse que a Política Nacional Sobre Drogas prioriza ações de prevenção e valoriza abordagens comunitárias e redes sociais. "Não adianta trabalhos isolados, o problema é relacional".

Segundo Azevedo, o governo atualizou ações que eram voltadas mais para a repressão, para prender principalmente usuários pensando na redução da oferta de drogas. Para ele, a polícia tem que trabalhar em todas as áreas - da oferta ao tráfico e ao combate à violência. "E, para isso, contar com redes já estruturadas, como a Pastoral da Sobriedade", afirmou.

O coordenador participa do 1º Encontro Sul-Brasileiro de Prevenção ao Uso de Drogas, promovido pela Pastoral da Sobriedade. Desde a noite de sexta-feira (2), integrantes da pastoral de todo o país discutem na capital paranaense os avanços na prevenção, o atendimento a parentes e a recuperação da dependência química. A pastoral, com sede em Curitiba, é referência para o governo federal.

Cursos para lidar com problema das drogas

De acordo com Aldo Azevedo, está ocorrendo uma articulação com vários ministérios e a sociedade civil "de ações de capacitação de atores sociais que vão fazer a prevenção na ponta, onde está o problema".

Em parceria com o Ministério da Educação, a Senad tem cursos a distância, como o que capacita professores para lidar com o problema. Já na terceira edição, com encerramento no fim do ano, 50 mil professores foram habilitados até agora a identificar o problema, levantar a realidade local e pensar num projeto de prevenção específico. "A meta é, a cada ano, realizar dois cursos compostos por 25 mil educadores", informou o coordenador.

Crença na prevenção

Ele destacou a parceria do governo e igrejas na prevenção do uso de drogas, uma atuação inédita que não acontece em nenhum outro país. O projeto Prevenção do Uso de Drogas em Instituições Religiosas e Movimentos Afins - Fé na Prevenção tem levado o governo a mapear grupos religiosos de todas as crenças.

A ideia é capacitar, até 2011, 20 mil líderes religiosos para atuar na prevenção do uso de álcool e outras drogas que geram comportamentos de risco e situações de violência. O coordenador disse que no país 12% da população têm algum tido de dependência química.

As aulas, gratuitas, da primeira turma do Fé na Prevenção começam no próximo dia 14, com 5 mil inscritos. A capacitação vai durar dois meses e terá certificação de extensão universitária pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Reuniões de autoajuda

Fundada em Curitiba em 1998, numa iniciativa de dom Irineu Danellon, bispo de Lins (SP), e alguns leigos, a pastoral teve sua metodologia desenvolvida pelo padre e atual assessor eclesiástico nacional, João Ceconello. Denominada Programa de Vida Nova, a metodologia é baseada em reuniões de autoajuda, com adaptação espiritual dos 12 Passos de Alcoólicos Anônimos.

"Estamos comemorando o 11º aniversário da pastoral, atingindo desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul. São 1,2 mil grupos de autoajuda por onde já passaram aproximadamente 3 milhões de pessoas", diz dom Irineu. Segundo ele, não há um número exato, mas a pastoral estima que cerca de 70 mil jovens que eram dependentes químicos estão vivendo em sobriedade, abstinentes, graças à atuação da pastoral.

O êxito do programa está no fato de o trabalho de recuperação começar pela família, que tem que estar envolvida em todo o processo. "Mesmo que o filho resista ao tratamento, que inclui internamentos e ajuda profissional das comunidades terapêuticas, com psicólogos e psiquiatras, a família tem a obrigação de perseverar", alertou o padre João Ceconello.

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