Conhecimento e engano
Cuidado com o excesso de autoconfiança quando você acha que é craque em um assunto: quanto mais você conhecer sobre um determinado assunto, mais propenso estará a ter falsas memórias sobre ele.
Essa constatação, um tanto paradoxal, foi apresentada por Anthony O'Connell (Universidade College Cork) e Ciara Greene (Universidade College Dublin) na conferência anual da Sociedade Psicológica Britânica, que ocorreu semana passada em Barcelona.
Os dois pesquisadores pediram que 489 voluntários classificassem sete temas (futebol, política, negócios, tecnologia, cinema, ciência e música pop) em termos de suas preferências pessoais e na sequência do que mais entendiam para o que menos entendiam.
Os pesquisadores então perguntaram se os voluntários se lembravam dos eventos descritos em quatro notícias sobre o tema que cada um colocou no topo da lista e quatro notícias sobre o último tópico da lista. Em cada caso, três das notícias realmente tinham acontecido e uma era fictícia.
Falsas memórias
Sem surpresa, os resultados mostraram que, quanto mais alguém se interessa por um tópico, maior é a frequência das memórias precisas relativas a esse tópico.
A novidade é que aumenta também o número de falsas memórias - 25% das pessoas apresentaram ao menos uma falsa memória em relação ao tema de sua preferência, em comparação com 10% em relação ao tema menos interessante.
E ter um alto nível de conhecimento sobre um tópico - medido objetivamente pelo número das memórias verdadeiras sobre ele, e não pela preferência pessoal - também aumenta a frequência de falsas memórias. As pessoas mais qualificadas sobre um assunto apresentaram uma propensão duas vezes maior a "lembrar" notícias relacionadas a esse tópico que nunca aconteceram.
"Melhorar o conhecimento científico e público das causas das falsas memórias é uma meta importante, particularmente à luz de algumas das consequências mais negativas associadas com o fenômeno, incluindo relatos falhos de testemunhas [de crimes] e as controvérsias em torno das falsas memórias de eventos traumáticos na infância. Espero que um melhor conhecimento sobre as falsas memórias possa proporcionar alguma inoculação contra seus efeitos nocivos," disse a professora Greene.
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