14/10/2016

Qual paciente deve ser tratado primeiro?

Redação do Diário da Saúde
Qual paciente deve ser tratado primeiro?
A dúvida é: Qual paciente deve ser atendido primeiro quando os recursos ficam disponíveis - seja uma UTI, um medicamento ou um órgão para transplante.
[Imagem: Cortesia UNC HealthCare]

Ética do atendimento médico

Qual é a maneira mais justa de alocar recursos médicos que são tipicamente escassos?

Os especialistas em ética, os médicos e os pacientes muitas vezes discordam nessa questão.

As pessoas leigas, ou não-especialistas - o público em geral - acreditam que os pacientes mais doentes e aqueles em listas de espera devem ser tratados em primeiro lugar quando os recursos ficam disponíveis - seja uma UTI, um medicamento ou um órgão para transplante.

Já os especialistas em ética e, em algum grau, os médicos, tendem a ter um conjunto diferente de prioridades.

Entre as outras abordagens possíveis, eles incluem:

  • Tirar na sorte.
  • Dar prioridade ao paciente com maior probabilidade de se beneficiar dos cuidados (prognóstico).
  • Dar prioridade ao paciente mais jovem.
  • Estabelecer a prioridade por uma combinação de idade, prognóstico e loteria.

Choque de realidade

A equipe do professor Pio Krutli, do instituto ETH de Zurique (Suíça), decidiu fazer uma "checagem de realidade" nos critérios de equidade propostos pelos especialistas em ética em saúde.

Os 1.267 entrevistados incluíam leigos, clínicos gerais, estudantes de medicina e outros profissionais de saúde. Os respondentes tinham que atribuir uma nota de 1 a 7 a cada critério em termos da justiça que eles atribuíam a cada um.

Em todas as três situações hipotéticas, os leigos consideraram o critério "O mais doente em primeiro lugar" como a opção mais justa, seguida por uma lista de espera e pelo prognóstico médico do paciente.

Por outro lado, os médicos são um pouco mais seletivos.

Quem tratar primeiro

Os especialistas em ética não podem simplesmente ignorar estes resultados empíricos.Dr. Pio Krutli

No caso de um transplante de órgão, os médicos consideram o prognóstico como o critério mais justo, seguido do mais doente em primeiro lugar, e uma combinação de idade, prognóstico e loteria em terceiro. Ao contrário dos leigos, os médicos afirmam que a idade do paciente é mais importante do que a sua posição na lista de espera.

No caso de uma pandemia, os médicos consideram o prognóstico do paciente como o critério mais justo para a ocupação de leitos hospitalares, seguido pelo mais doente em primeiro lugar e pela combinação de critérios.

No caso de um implante de quadril, os profissionais de saúde e os leigos concordam que o "o mais doente primeiro" é o critério mais justo, uma vez que o resultado imediato é melhorar a qualidade de vida do paciente.

Todos os pesquisados consideram que o princípio da "reciprocidade", ou recompensar as pessoas que tenham prestado serviços à sociedade no passado, é um critério injusto. Tanto médicos quanto leigos acreditam que a intenção de um paciente de fazer uma contribuição monetária para a sua assistência também não é um princípio justo.

Preservar a ética

"Os resultados da nossa pesquisa são, até certo ponto, diametralmente opostos à posição atual de vários especialistas em ética.

"A grande diferença entre as classificações de equidade dos especialistas em ética e o público em geral não é particularmente estranha - os eticistas acreditam que princípios éticos não podem ser derivados de dados empíricos.

"Por outro lado, os especialistas em ética não podem simplesmente ignorar estes resultados empíricos, ou então há um risco de que o fosso entre a realidade e os padrões morais se ampliem a um ponto em que os argumentos éticos sejam postos de lado por estarem divorciados da realidade," concluiu Pio Krutli.

Os resultados foram publicados na revista PLoS ONE.

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