08/01/2025

Psicodélicos potencializam efeitos da meditação

Redação do Diário da Saúde

Meditação no Santo Daime

Pesquisadores queriam saber se substâncias psicodélicas, nomeadamente DMT e harmina, dois ingredientes ativos da bebida tradicional ayahuasca, poderiam reforçar os conhecidos efeitos da meditação.

A ayahuasca é uma bebida preparada a partir da decocção de duas plantas amazônicas, o cipó-maguari e a chacrona. Ela é rotineiramente usada nos rituais da religião Santo Daime.

Depois de avaliar diversos indicadores, incluindo atenção plena, compaixão, insight e transcendência do tipo místico, comparando a meditação com placebo, os resultados revelaram que o uso desses psicodélicos, em combinação com a meditação, aumenta as experiências de insight, transcendência e significado.

A ciência da meditação e as pesquisas com substâncias psicodélicas têm trazido evidências crescentes dos seus respetivos benefícios para a saúde mental e para o bem-estar. No caso dos psicodélicos, tem sido identificado um potencial terapêutico para o tratamento de uma ampla gama de condições de saúde mental, embora o uso dessas substâncias deva obedecer a um uso rigoroso e em contextos apropriados, para evitar a dependência química.

Uma substância que tem-se revelado particularmente promissora é a dimetiltriptamina (DMT), um componente psicoativo que se encontra em muitas plantas de todo o mundo, como as acácias e as mimosas, e é utilizado na medicina vegetal indígena amazônica.

A ayahuasca atraiu recentemente um interesse científico crescente devido a evidências dos seus potenciais efeitos terapêuticos, incluindo a redução dos sintomas de ansiedade e depressão, e a melhoria das capacidades de atenção plena e empatia. A harmina, por sua vez, substância que resulta de um composto com extratos de uma planta do Oriente Médio e de videiras da América do Sul, tem revelado potencial no tratamento da depressão e de outras doenças como o diabetes.

Meditação mais psicodélicos

Com as evidências terapêuticas da meditação e dos psicodélicos bem demonstrados quando ambos são usados de forma isolada, começaram a surgir indicadores de potenciais sinergias da sua utilização de forma combinada. Foi neste contexto que Daniel Meling e colegas da Universidade de Zurique (Suíça) decidiram testar as duas coisas juntas, realizando para isso um estudo randomizado controlado por placebo. O objetivo primário era testar se DMT-harmina combinadas com a meditação aumentam a atenção plena, a compaixão, o insight e a transcendência do tipo místico em um grau superior ao da meditação sozinha.

A pesquisa envolveu 40 meditadores experientes (18 mulheres e 22 homens) que participaram de um retiro de meditação de três dias, recebendo placebo ou DMT-harmina. Os níveis de atenção plena, compaixão, insight e transcendência dos participantes foram avaliados antes, durante e após o retiro de meditação, utilizando questionários psicométricos.

A atenção plena e a compaixão não foram significativamente diferentes no grupo DMT-harmina, em comparação com o grupo placebo. No entanto, o grupo DMT-harmina autoatribuiu níveis mais elevados de experiências do tipo místico, consciência não dual (consciência unificadora que transcende a separação entre o eu e o outro, ou entre a mente e o corpo) e insight emocional durante os efeitos agudos da substância, em comparação com a meditação com placebo.

"Este estudo fornece novas evidências que apoiam a noção de que a combinação do composto psicodélico DMT com harmina tem o potencial de melhorar a meditação através de uma maior sensação de percepção, transcendência e significado, oferecendo informações valiosas sobre a interseção de psicodélicos e práticas meditativas," disse o professor Milan Scheidegger, coordenador do estudo.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Meditating on psychedelics. A randomized placebo-controlled study of DMT and harmine in a mindfulness retreat
Autores: Daniel Meling, Klemens Egger, Helena D. Aicher, Javier Jareño Redondo, Jovin Mueller, Joëlle Dornbierer, Elijah Temperli, Emilia A. Vasella, Luzia Caflisch, David J. Pfeiffer, Jonas T. T. Schlomberg, John W. Smallridge, Dario A. Dornbierer, Milan Scheidegger
Publicação: Journal of Psychopharmacology
Vol.: 38(10):897-910
DOI: 10.1177/02698811241282637
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