17/08/2020

Placebos são úteis mesmo quando pacientes sabem que são placebos

Redação do Diário da Saúde
Placebos são úteis mesmo quando pacientes sabem que são placebos
O placebo psicológico permitiu induzir efeitos emocionais dirigidos nos pacientes.
[Imagem: CC0 Public Domain/Pixabay]

Mente sobre o corpo

Que percentual dos resultados de um tratamento médico se deve ao medicamento em si, e quanto se deve aos efeitos da mente do paciente sobre seu corpo?

Está bem documentado que as pessoas muitas vezes se sentem melhor depois de fazer um tratamento sem ingredientes ativos simplesmente porque acreditam que a coisa é real - este é o conhecido efeito placebo.

Mas há também o placebo psicológico, um crescente corpo de evidências que mostram que um placebo receitado honestamente também cura os sintomas dos pacientes - onde honesto significa que o paciente sabe que é um placebo.

Mente agindo sobre a matéria

Uma equipe de pesquisadores das universidades Estadual de Michigan e Dartmouth (EUA) acabam de reforçar esse conhecimento, demonstrando mais uma vez que os placebos reduzem os marcadores cerebrais de estresse emocional, mesmo quando as pessoas sabem que estão tomando algo que não tem nenhum efeito fisiológico.

Neste caso, os resultados mostram que, mesmo que as pessoas estejam cientes de que seu tratamento não é "real" - conhecido como placebo psicológico ou placebo não-ilusório - acreditar que ele pode curar pode levar a mudanças na forma como o cérebro reage às informações emocionais.

"Placebos têm tudo a ver com 'mente sobre a matéria'," comentou o professor Jason Moser. "Placebos não-enganadores nasceram para que você pudesse usá-los na prática de rotina. Então, em vez de prescrever uma série de medicamentos para ajudar um paciente, você pode dar-lhes um placebo, dizer-lhes que isso pode ajudá-los e as chances são de que, se eles acreditarem nisso pode, então isso irá ajudá-los."

Placebo não-enganador

Para testar os placebos não-enganadores, ou ilusórios, os pesquisadores mostraram a dois grupos separados de pessoas uma série de imagens emocionais em dois experimentos.

Os membros do grupo do placebo não-ilusório leram sobre os efeitos do placebo e inalaram um spray nasal de solução salina. Eles foram informados de que o spray nasal era um placebo que não continha ingredientes ativos, mas que ajudaria a reduzir seus sentimentos negativos se eles acreditassem que sim.

Os membros do grupo de controle também inalaram o mesmo spray de solução salina, mas foram informados de que o spray melhorava a clareza das leituras fisiológicas que os pesquisadores estavam registrando.

O primeiro experimento revelou que os placebos não enganadores reduziram o sofrimento emocional relatado pelos participantes. É importante ressaltar que o segundo experimento mostrou que os placebos não enganadores reduziram a atividade elétrica do cérebro, refletindo o quanto a pessoa sentia angústia em relação aos eventos emocionais, e a redução da atividade cerebral emocional ocorreu em apenas alguns poucos segundos.

"Estes resultados fornecem suporte inicial de que os placebos não-deceptivos não são apenas um produto do viés de resposta - dizendo ao experimentador o que eles querem ouvir - mas representam efeitos psicobiológicos genuínos," disse Ethan Kross, coautor do estudo.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Placebos without deception reduce self-report and neural measures of emotional distress
Autores: Darwin A. Guevarra, Jason S. Moser, Tor D. Wager, Ethan Kross
Publicação: Nature Communications
Vol.: 11, Article number: 3785
DOI: 10.1038/s41467-020-17654-y
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