Prolina
Hoje consideramos natural tomar remédios oralmente ou por injeção, mas estas são apenas abordagens mais simples e confortáveis para os pacientes, longe de garantirem que os medicamentos cheguem nas doses corretas aos locais onde eles devem agir - e isso explica a larga maioria dos efeitos colaterais danosos que os medicamentos podem provocar.
Por isso há um esforço crescente para desenvolver carreadores de medicamentos, substâncias que possam encapsular a droga e levá-la apenas aonde ela é necessária.
Pesquisadores demonstraram agora que a prolina, um aminoácido encontrado nas penas e no tecido da pele das galinhas, pode ser usada para limitar os efeitos colaterais da quimioterapia e reparar enzimas importantes.
A prolina tem um formato muito reto e rígido, ao mesmo tempo que é solúvel em água, o que a torna especialmente adequada para administração de medicamentos, já que a água constitui cerca de 60% do corpo humano. Ao ligar o peptídeo a pequenas quantidades de metal como o paládio, além de colágeno, os pesquisadores criaram uma estrutura ajustável que pode aumentar ou diminuir rapidamente de tamanho.
É uma espécie de gaiola, uma "caixa" feita de moléculas únicas, todas biologicamente compatíveis. Essas gaiolas podem abrigar moléculas de medicamentos de diversos tamanhos e transportá-las no corpo com alto nível de precisão.
Como a prolina e o colágeno estão amplamente disponíveis e não dependem de cadeias de hidrocarbonetos como os métodos anteriores, a equipe espera aumentar de forma sustentável sua produção atual no laboratório.
Remédio somente ele é necessário
Os efeitos secundários negativos associados à quimioterapia, por exemplo, como a perda de cabelos e danos nos nervos, são resultado de uma "toxicidade fora do lugar", onde o tratamento mata as células saudáveis que rodeiam os tumores, bem como o próprio tumor. Ao criar uma gaiola de tamanho nanométrico para alojar o medicamento e transportá-lo para o tumor antes de o liberar, esta abordagem permite canalizar o medicamento mais diretamente para o tumor, protegendo as células saudáveis.
"O que criamos é essencialmente um saquinho de chá molecular biologicamente compatível. Podemos encher esse saquinho, ou gaiola feita de prolina e colágeno amplamente disponíveis, com vários medicamentos diferentes e administrá-los de uma forma muito mais direcionada do que podíamos antes."
"Com o tempo, esperamos que isso possa significar que podemos limitar a perda de cabelo, as náuseas e outros efeitos colaterais desagradáveis da quimioterapia. Poderemos até ser capazes de reparar enzimas com defeito que influenciam o desenvolvimento do câncer. A melhor parte é que podemos fazer isso de forma sustentável e em grande escala," resumiu o professor Charlie McTernan, da Universidade do Rei de Londres (Reino Unido).
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