Paranoia pode ser, ao menos em parte, um problema da visão

A descoberta bate com dados epidemiológicos, já que muito poucas pessoas com cegueira congênita desenvolvem esquizofrenia.
[Imagem: Michael S. Helfenbein/Yale]

Visão e paranoia

Que somos um todo interligado todos sabemos, mas agora cientistas acreditam ter encontrado uma conexão inesperada no "funcionamento" humano: Crenças complexas, incluindo a paranoia, podem ter suas raízes em algo tão básico quanto a nossa visão.

Ao completar uma tarefa de percepção visual, na qual os participantes tinham que identificar se um ponto em movimento estava perseguindo outro ponto em movimento, as pessoas com maiores tendências ao pensamento paranoico (acreditar que os outros pretendiam prejudicá-las) e ao pensamento teleológico (atribuir significado e propósito excessivos aos eventos) saíram-se pior do que os participantes que não tinham essas questões comportamentais.

Aqueles indivíduos alegaram com mais frequência - e com confiança - que um ponto estava perseguindo o outro, quando na verdade não estava.

Se essa conexão for confirmada em estudos maiores, isso poderá indicar que os testes para doenças como a esquizofrenia poderão ser feitos com um simples exame oftalmológico, em lugar das entrevistas, que sofrem de todos os vieses da subjetividade.

"A perseguição ou outros comportamentos intencionais são o que você pode considerar como experiências percebidas em um nível muito alto no cérebro, que alguém pode ter que raciocinar e deliberar. Neste estudo, podemos vê-la na parte inferior do cérebro, na visão, o que consideramos excitante e interessante - e tem implicações sobre como esses mecanismos podem ser relevantes para a esquizofrenia," disse o professor Philip Corlett, da Universidade de Yale (EUA).

Paranoia e pensamento teleológico

A paranoia e o pensamento teleológico são semelhantes no sentido de que ambos são atribuições incorretas de intenção, mas a paranoia é uma percepção negativa, enquanto o pensamento teleológico tende a ser positivo. Ambos os padrões de pensamento estão ligados à psicose e à esquizofrenia.

As alucinações também estão associadas à psicose e muitas vezes são sobre outras pessoas, sugerindo que pode haver um componente social nessas percepções visuais errôneas.

Os participantes com graus mais elevados de paranoia e pensamento teleológico (medidos através de questionários) mostraram-se mais propensos do que os outros a dizer com confiança que uma perseguição estava acontecendo, quando não estava. Essencialmente, eles perceberam uma interação social que não estava ocorrendo.

Em experimentos adicionais, os pesquisadores pediram aos participantes que identificassem qual ponto estava perseguindo e qual ponto estava sendo perseguido. Nestes resultados, a paranoia e o pensamento teleológico começaram a divergir.

"Pessoas com paranoia foram particularmente ruins em detectar qual ponto estava sendo perseguido," disse o pesquisador Santiago Castiello. "E as pessoas com alta teleologia foram particularmente ruins em detectar qual ponto estava perseguindo."

A equipe agora pretende aprofundar os estudos para tentar descobrir se algum teste visual específico poderia prever o risco de psicose e esquizofrenia.