Paradoxo de Peto
Segundo o paradigma científico vigente, as células do corpo de um animal podem ser vistas como minúsculos alvos, cada um vulnerável à flecha mortal do câncer - neste caso, flecha seria uma mutação genética que faria a célula perder sua "programação" original, passando a se comportar de forma anômala.
Se esta fosse de fato a realidade, parecia ser plausível concluir que, quanto mais células um determinado animal tem e mais tempo ele vive, maiores são as chances de ele acumular mutações celulares prejudiciais que levarão ao câncer.
Bem, de fato, esse é o raciocínio defendido pela maioria dos cientistas até agora.
No entanto, muitos animais muito grandes, com enormes populações de células, incluindo elefantes e baleias, não apenas sobrevivem até a velhice, mas têm taxas notavelmente baixas de câncer.
Esse enigma biológico leva o nome de "paradoxo de Peto". Em termos resumidos, o paradoxo diz que o tamanho e a longevidade das espécies devem ser proporcionais à incidência de câncer, mas os dados do mundo real entre as espécies sugerem que essa associação não se mantém.
Câncer entre diferentes espécies de animais
Em um novo estudo publicado na revista Nature, Orsolya Vincze e uma equipe internacional de pesquisadores contam como se debruçaram sobre as implicações recentes do paradoxo de Peto e destacam o que a ciência está aprendendo sobre o câncer na árvore da vida.
Eles analisaram o maior banco de dados cruzados de espécies, um conjunto de dados sobre a vida de mamíferos adultos de registros de zoológicos que inclui 110.148 indivíduos abrangendo 191 espécies.
O objetivo era avaliar as taxas de mortalidade por câncer específicas de cada espécie em uma ampla variedade de mamíferos, reexaminar as alegações do paradoxo de Peto de uma forma rigorosamente quantitativa e explorar possíveis mecanismos de supressão do câncer relevantes para combater a doença em humanos e animais.
Os resultados oferecem provas conclusivas de que o risco de mortalidade por câncer é amplamente independente da massa corporal e da expectativa de vida adulta entre as espécies, contestando frontalmente o raciocínio prevalecente na comunidade científica.
Câncer dependente da dieta
Segundo a equipe, a solução para o paradoxo de Peto está no fato de que maiores tamanhos corporais e longevidade nas espécies foram acompanhados pela coevolução de potentes mecanismos de resistência ao câncer, quebrando aquela pretensa relação numérica simplista.
Os dados mostram que, embora o câncer seja um fato da vida em toda a gama de espécies multicelulares da Terra, a doença dificilmente é democrática na seleção de suas vítimas: Algumas espécies têm taxas de câncer significativamente mais altas ou mais baixas, por razões que os pesquisadores ainda estão tentando decifrar.
Mas o estudo revelou uma nova associação: A vulnerabilidade anormalmente elevada ao câncer de alguns mamíferos carnívoros.
A equipe descobriu que a disparidade está intimamente associada à dieta, com as taxas mais altas de câncer encontradas em mamíferos que consomem outros mamíferos, embora outros fatores também desempenhem papéis importantes, impedindo que se construa outra associação simplista como a que vigorava até agora. Em outras palavras, o câncer é um problema complexo, que continuará desafiando nosso entendimento e exigindo estudos cada vez mais aprofundados.
Ver mais notícias sobre os temas: | |||
Câncer | Biologia | Alimentação e Nutrição | |
Ver todos os temas >> |
A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.