15/06/2021

Paradoxo da amizade pode ser apenas um engodo matemático

Redação do Diário da Saúde
Paradoxo da amizade pode ser apenas um engodo matemático
Outro mito recentemente desbancado é o de que ninguém conseguiria ter mais do que 150 amigos.
[Imagem: Gordon Johnson/Pixabay]

Paradoxo da amizade

Algumas pessoas afirmam ter um número enorme de amigos, enquanto outras citam apenas alguns poucos.

A menos que você tenha um bom motivo para acreditar o contrário, é razoável supor que você tenha um número médio de amigos.

Contudo, se você tentar colocar tudo na ponta do lápis, comparando-se com seus amigos, poderá descobrir uma imagem diferente dessa visão média oferecida pelo bom senso.

De fato, um cálculo simple, proposto pelo cientista Scott L. Field em 1991, defende que é provável que a maioria dos seus amigos sejam mais populares do que você - o artigo de Field se chamava "Por que seus amigos têm mais amigos do que você".

Isso passou a ser conhecido como "paradoxo da amizade", a observação de que os graus dos vizinhos de uma pessoa qualquer em qualquer rede serão, em média, maiores do que o grau do próprio indivíduo. Em outras palavras: Seus amigos provavelmente têm mais amigos do que você.

Quando os cientistas começaram a explorar esse mecanismo, eles acabaram chegando a conclusões bem além da popularidade: Seus amigos podem ser mais ricos do que você, mais atraentes do que você, e por aí vai.

Ou foi, porque agora outros pesquisadores têm motivos para crer que todas essas "descobertas científicas" não passaram de um engodo matemático, que vem ludibriando a comunidade científica há mais de 30 anos.

Viés dos amigos

Quando um trio de pesquisadores resolveu analisar a questão do paradoxo da amizade com mais critério, eles verificaram que, embora o enquadramento padrão da questão se baseie essencialmente em médias, também ocorrem variações significativas que tiram o poder explicativo dessas médias.

"As análises padrão estão preocupadas com o comportamento médio, mas há muita heterogeneidade entre as pessoas. Os resultados médios, por exemplo, poderiam ser distorcidos por alguns valores discrepantes. Para obter uma imagem mais completa, estudamos a distribuição completa que descreve como as pessoas se comparam a seus amigos - e não apenas a média," explicou o professor George Cantwell, da Universidade de Michigan (EUA).

Eles descobriram que a aplicação da matemática a dados do mundo real revela uma imagem um pouco mais matizada. Por exemplo, pessoas populares têm maior probabilidade de serem amigas umas das outras, enquanto pessoas menos populares têm maior probabilidade de serem amigas de pessoas menos populares.

Inversamente, algumas pessoas têm apenas um ou dois amigos, enquanto outras têm centenas. "Isso tende a aumentar o efeito," disse Cantwell. "Embora certamente haja outros efeitos em jogo, cerca de 95% da variação dentro das redes sociais pode ser explicada apenas por esses dois."

Assim, a lição a se levar para casa é simplesmente ter cuidado com as impressões que obtemos sobre nosso sucesso e status social ao olhar para as pessoas ao nosso redor, porque temos uma visão distorcida.

"No mundo social offline, o viés é parcialmente atenuado pelo fato de que tendemos a acabar em torno de outras pessoas semelhantes a nós. Nas redes sociais online, no entanto, o efeito pode ser exacerbado - virtualmente não há limite para o número de pessoas que podem seguir alguém online e nenhuma razão para olhar apenas para pessoas 'semelhantes'," alertou Cantwell.

Checagem com artigo científico:

Artigo: The friendship paradox in real and model networks
Autores: George T. Cantwell, Alec Kirkley, M. E. J. Newman
Publicação: Journal of Complex Networks
Vol.: 9, Issue 2
DOI: 10.1093/comnet/cnab011
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