25/09/2023

Pacientes relembram a experiência da morte após parada cardíaca

Redação do Diário da Saúde
Pacientes relembram a experiência da morte após parada cardíaca
O que a pessoa sente quando morre?
[Imagem: Tumisu/Pixabay]

Consciência duradoura

Até uma hora depois de seus corações terem parado, alguns pacientes reanimados por ressuscitação cardiopulmonar (RCP) mantinham memórias claras de terem experimentado a morte e, mesmo inconscientes, ainda tinham padrões cerebrais ligados ao pensamento e à memória.

Em um estudo liderado por cientistas da Universidade Cidade de Nova York, em cooperação com 25 hospitais, na sua maioria norte-americanos e britânicos, alguns sobreviventes de parada cardíaca descreveram experiências de morte lúcida - ou experiência de quase morte - que ocorreram enquanto estavam inconscientes pelos padrões médicos.

Apesar do tratamento imediato, menos de 10% dos 567 pacientes estudados, que receberam RCP (ressuscitação cardiopulmonar) no hospital, se recuperaram o suficiente para receberem alta. Quatro em cada 10 pacientes que sobreviveram, no entanto, recordaram algum grau de consciência durante a RCP, grau este não capturado pelas medidas padrão.

O estudo também descobriu que, num subconjunto destes pacientes que receberam monitoração cerebral, quase 40% tiveram atividade cerebral que voltou ao nível normal ou quase normal, a partir de um estado de "linha plana", mesmo uma hora após a RCP. Conforme capturado por EEG (eletroencefalograma), uma tecnologia que registra a atividade cerebral com eletrodos, os pacientes tiveram picos nas ondas gama, delta, teta, alfa e beta, associadas à função mental superior.

"Embora os médicos pensem há muito tempo que o cérebro sofra danos permanentes cerca de 10 minutos depois que o coração pára de fornecer oxigênio, nosso trabalho descobriu que o cérebro pode mostrar sinais de recuperação elétrica durante a RCP em andamento. Este é o primeiro grande estudo a mostrar que essas lembranças e mudanças nas ondas cerebrais podem ser sinais de elementos universais e compartilhados das chamadas experiências de quase morte," disse o professor Sam Parnia, coordenador da equipe internacional que realizou o estudo.

Experiências de quase morte

Pessoas que sobrevivem a paradas cardíacas há muito relatam ter experimentado uma consciência intensificada e experiências lúcidas e marcantes. Essas experiências incluem uma percepção de separação do corpo, observação de eventos sem dor ou angústia e uma avaliação significativa de suas ações e de seus relacionamentos.

Este novo trabalho comprovou mais uma vez que essas experiências envolvendo a morte são diferentes de alucinações, delírios, ilusões, sonhos ou consciência induzida por RCP.

Os autores do estudo concluem que as investigações realizadas até hoje não comprovam e nem refutam a realidade ou o significado das experiências dos pacientes e das reivindicações de consciência em relação à morte. Eles dizem que a experiência recordada em torno da morte merece uma investigação empírica mais aprofundada e planejam realizar estudos que definam com mais precisão os biomarcadores da consciência clínica e que monitorem os efeitos psicológicos a longo prazo da reanimação após uma parada cardíaca.

"Essas experiências fornecem um vislumbre de uma dimensão real, embora pouco compreendida, da consciência humana, que se descobre com a morte. Os resultados [do estudo] também podem orientar o projeto de novas maneiras de reiniciar o coração ou prevenir lesões cerebrais e têm implicações para os transplantes," concluiu o professor Parnia.

Checagem com artigo científico:

Artigo: AWAreness during REsuscitation - II: A multi-center study of consciousness and awareness in cardiac arrest
Autores: Sam Parnia, Tara Keshavarz Shirazi, Jignesh Patel, Linh Tran, Niraj Sinha, Caitlin O'Neill, Emma Roellke, Amanda Mengotto, Shannon Findlay, Michael McBrine, Rebecca Spiegel, Thaddeus Tarpey, Elise Huppert, Ian Jaffe, Anelly M. Gonzales, Jing Xu, Emmeline Koopman, Gavin D. Perkins, Alain Vuylsteke, Benjamin M. Bloom, Heather Jarman, Hiu Nam Tong, Louisa Chan, Michael Lyaker, Matthew Thomas, Veselin Velchev, Charles B. Cairns, Rahul Sharma, Erik Kulstad, Elizabeth Scherer, Terence O'Keeffe, Mahtab Foroozesh, Olumayowa Abe, Chinwe Ogedegbe, Amira Girgis, Deepak Pradhan, Charles D. Deakin
Publicação: Resuscitation
DOI: 10.1016/j.resuscitation.2023.109903
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