31/01/2017

Novos padrões para a saúde do feto

Redação do Diário da Saúde
Novos padrões para a saúde do feto
Os níveis de referência usados hoje foram traçados com base em curvas de crescimento de bebês quase inteiramente dos Estados Unidos.
[Imagem: Antonio Scarpinetti]

Padrões mundiais

Os padrões usados por médicos de todo o mundo para avaliar imagens de ultrassom de gestantes, e decidir se o feto vem se desenvolvendo de modo saudável, estão prestes a ser atualizados, graças a um estudo internacional coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A etapa brasileira do trabalho foi realizada na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), e a análise estatística dos dados globais envolveu informações obtidas a partir de exames de ultrassom realizados em mais de 1,3 mil mulheres de 10 países - foram 157 mulheres brasileiras participantes.

"Quando se acompanha o crescimento de uma criança, espera-se que ele aconteça dentro de uma faixa preestabelecida de normalidade, dependendo de sexo e idade. A mesma ideia, transposta para o ambiente intrauterino, para os fetos, existe já há muito tempo: de que eles tenham um crescimento dentro de uma variação de normalidade para cada idade gestacional," explica o professor José Guilherme Cecatti.

O problema é que os níveis de referência atualmente usados foram traçados com base em curvas de crescimento de fetos que são, em sua quase totalidade, de países desenvolvidos, principalmente dos Estados Unidos - algo que não é representativo da população mundial.

"Com isso, a gente acaba, quase sempre, superestimando a ocorrência de determinadas condições, como o crescimento insuficiente do feto. Porque se está pensando num padrão genético, biológico, de um feto de uma mãe branca norte-americana, que não é necessariamente igual à média da população mundial," detalhou Cecatti.

Desenvolvimento normal do feto

As novas curvas de crescimento trazem informações sobre circunferência da cabeça e do abdome, do comprimento do úmero (o osso que vai do ombro ao cotovelo) e do fêmur, além de estimativas do peso do feto.

Esses valores de referência de base mundial deverão diminuir a incidência de casos como os de mães que ouvem que seus bebês estão um pouco abaixo do peso. "Porque um peso um pouco abaixo do padrão norte-americano pode não significar nada em relação ao padrão internacional. E evitando um diagnóstico falso positivo, evita-se uma série de outras medidas, que consomem tempo e dinheiro," disse o médico.

"Não falamos em médias", explica o matemático José Carvalho, que ajudou na análise dos dados. "Quando damos as curvas, damos a distribuição toda, através dos percentis: quais medidas estão nos 10% superiores, por exemplo." Com isso, os novos valores poderão permitir diagnósticos mais precisos de condições como a microcefalia, ainda durante a gestação.

Mais resultados

Os dados levantados para a elaboração nas novas curvas de crescimento ainda podem gerar mais resultados científicos no futuro, apontam os pesquisadores.

"A maioria das mulheres teve, em média, sete exames de ultrassonografia realizados ao longo da gestação, e passaram por avaliação nutricional, antropométrica - altura, peso, pregas cutâneas - e isso gerou uma quantidade de informação muito grande", apontou Cecatti. "Então, o banco de dados do estudo ainda tem uma quantidade enorme de informações, e já estamos lidando com isso, buscando maneiras de usar esses dados para gerar uma quantidade maior de informações que possam ser úteis para a saúde das mulheres e crianças".

Os resultados foram publicados no periódico PLOS Medicine.

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