17/04/2023

Não temos nenhuma técnica viável para combater teorias da conspiração

Redação do Diário da Saúde

Teorias da conspiração

Uma revisão dos estudos científicos publicados até agora sobre métodos para reduzir as crenças em teorias da conspiração mostrou que a maioria desses métodos é ineficaz.

A única abordagem que se mostrou um pouco promissora foi aquela focada em promover o pensamento crítico ou uma mentalidade analítica, mas mesmo aí os resultados foram decepcionantes.

Sempre existiram teorias da conspiração, mas os cientistas acreditavam que eram casos "pitorescos", restritos a um número muito pequenos de indivíduos com problemas de relacionamento e convivência social.

Mas isto mudou com a pandemia de covid-19, quando a crença em teorias desse tipo reduziu significativamente a adesão às vacinas contra o SARS-CoV-2, mostrando que acreditar em teorias da conspiração pode afetar diretamente a saúde das pessoas e levar a comportamentos antissociais.

Em vista disso, foram feitos inúmeros estudos para testar as abordagens mais recomendadas por cientistas, sociólogos e psicólogos como capazes de se contrapor a essas crenças, algumas muito bizarras.

O que Cian O'Mahony e seus colegas da Universidade College Cork (Irlanda) fizeram agora foi reunir todos esses estudos e avaliar e comparar os efeitos das diversas técnicas propostas.

Os resultados foram desanimadores.

Técnicas contra teorias da conspiração

A análise mostrou que, de todos os métodos testados nos 25 estudos, metade gerou alguma mudança nas crenças de conspiração dos participantes, mas nenhum gerou mudanças de tamanho significativo, que leve à recomendação de seu uso "terapêutico".

Isso indica que a larga maioria dos métodos existentes ou já propostos para mudar as crenças nas teorias da conspiração são ineficazes.

Uma conclusão interessante é que as intervenções que produziram algum resultado foram aquelas que consistem em uma apresentação aos participantes antes de eles serem expostos às declarações da teoria conspiratória - ou seja, a técnica só funciona antes que a pessoa tenha conhecimento da teoria conspiratória. A pré-exposição tipicamente envolve chamar a atenção para as imprecisões factuais das teorias da conspiração que serão apresentadas a seguir. Todas as intervenções pós-exposição mostraram-se-se menos eficazes.

Um método relativamente eficaz foi um curso educacional de três meses sobre a diferenciação entre práticas científicas e pseudocientíficas. Os contra-argumentos tradicionais contra as teorias da conspiração foram os métodos menos eficazes.

"Uma das descobertas mais importantes da nossa análise é que a verificação tradicional de fatos e contra-argumentos são os meios menos eficazes de combater as crenças da conspiração. Descobrimos que medidas preventivas, como expor os participantes a contra-argumentos antes que eles encontrassem a desinformação, foram as estratégias mais eficazes para desafiar as crenças da conspiração. Também descobrimos que a maioria das intervenções seria difícil de implementar em ambientes do mundo real, e é por isso que estamos desenvolvendo uma intervenção mais viável financiada pela Parceria Empresarial do Conselho de Pesquisa Irlandês com o Google, na forma de um videogame," concluiu a equipe.

Checagem com artigo científico:

Artigo: The efficacy of interventions in reducing belief in conspiracy theories: A systematic review
Autores: Cian O’Mahony, Maryanne Brassil, Gillian Murphy, Conor Linehan
Publicação: PLoS ONE
DOI: 10.1371/journal.pone.0280902
Siga o Diário da Saúde no Google News

Ver mais notícias sobre os temas:

Comportamento

Educação

Preconceitos

Ver todos os temas >>   

A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.