11/11/2016

Mutações genéticas nem sempre são uma má notícia

Redação do Diário da Saúde
Mutações genéticas nem sempre são uma má notícia
Existem mutações boas, alterações nos genes que anulam as consequências de mutações consideradas prejudiciais.
[Imagem: J. Drinjakovic]

Mutações genéticas boas

Com a proliferação de estudos sobre "genes que causam câncer", várias equipes de cientistas vieram a público esclarecer que o câncer não necessariamente tem origem genética e, mais importante, que genes "defeituosos" nem sempre causam doenças graves.

Além disso, tudo indica que nosso sistema imunológico mata um câncer por dia.

Agora está-se confirmando que existem "mutações boas", alterações nos genes que anulam as consequências de mutações consideradas prejudiciais. Isso pode ajudar a explicar, por exemplo, porque muitas pessoas que apresentam mutações associadas com cânceres nunca ficam doentes com gravidade, ou mesmo não desenvolvem nenhum indício da doença.

Esta nova visão das mutações genéticas está vindo à luz à medida que os cientistas passam a sequenciar os genomas de pessoas saudáveis, e não apenas dos doentes. Entre essas pessoas saudáveis estão muitas que possuem mutações genéticas anteriormente catalogadas como causadoras de doenças debilitantes, como a fibrose cística ou a Anemia de Fanconi, por exemplo, mas que não desenvolveram a doença.

Supressão genética

Os cientistas geralmente se referem às mutações genéticas como erros em nossos genes que nos deixarão doentes - esta pelo menos tem sido a tendência predominante na comunicação científica.

Contudo, os novos dados comprovam que nem todos os erros são ruins, e alguns podem até mesmo cancelar, ou suprimir, a influência daquelas mutações que sabidamente causam doenças.

Pouco se sabe ainda sobre esse processo - chamado de supressão genética -, mas uma nova luz foi lançada agora sobre o assunto por um trabalho de pesquisadores das universidades de Toronto (Canadá) e Minnesota (EUA), que começaram a desvendar as leis gerais por trás desse fenômeno.

Eles compilaram o primeiro conjunto abrangente de mutações supressivas em uma célula, o que ajuda a explicar como mutações supressivas se combinam com mutações causadoras de doenças para suavizar os efeitos, ou mesmo suprimirem completamente quaisquer efeitos danosos.

Mutações genéticas nem sempre são uma má notícia
O criador da técnica de edição do DNA recentemente alertou que as terapias genéticas exigem cautela, a mesma cautela que deve ser usada em relação aos exames genéticos de câncer.
[Imagem: MIT Technology Review/Greg Peverill-Conti]

Enigmas genéticos

"Nós realmente não entendemos por que algumas pessoas com mutações prejudiciais desenvolvem a doença e outras não. Uma parte disso pode ser devido ao ambiente, mas muito pode ser devido à presença de outras mutações que estão suprimindo os efeitos das primeiras mutações," disse o professor Frederick Roth, um dos líderes do estudo.

"Se nós soubermos os genes nos quais essas mutações supressivas ocorrem, então poderemos entender como eles se relacionam com os genes causadores de doenças, e isto pode orientar o futuro desenvolvimento de medicamentos," acrescentou sua colega Jolanda van Leeuwen.

Mas identificar essas mutações não é fácil. Uma mutação supressiva pode, teoricamente, ser qualquer uma das centenas de milhares de falhas na transcrição do DNA, espalhadas pelos 20.000 genes humanos, o que torna cada genoma único. Testar todas seria impraticável.

"Um estudo como este nunca foi feito em uma escala global. E, como não é possível fazer essas experiências em humanos, usamos levedura como um organismo modelo, no qual podemos saber exatamente como as mutações afetam a saúde da célula", disse Van Leeuwen. Com apenas 6.000 genes, as células de levedura são uma versão mais simples do genoma, mas as mesmas regras básicas de genética parecem se aplicar a ambos.

"Nós descobrimos princípios fundamentais da supressão genética e mostramos que as mutações prejudiciais e seus supressores são geralmente encontrados em genes que estão funcionalmente relacionados. Em vez de procurar uma agulha no palheiro, podemos agora diminuir o nosso foco ao procurar por supressores de transtornos genéticos nos seres humanos. Nós passamos de uma área de pesquisa abrangendo 20 mil genes para algumas centenas, ou mesmo algumas dezenas. Esse é um grande passo," disse o professor Charles Boone, um dos coordenadores da equipe.

Os resultados foram publicados na revista Science.

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