Várias mutações necessárias
Pesquisadores brasileiros e portugueses descobriram que um tipo agressivo de leucemia linfoide aguda (LLA), câncer mais comum em crianças, é desencadeado por uma mutação no gene que produz uma proteína envolvida com a imunidade, chamada IL-7R.
"Observamos que a ativação contínua da função da proteína IL-7R, mesmo que em níveis fisiológicos de sua expressão, desencadeia a proliferação exagerada de leucócitos (glóbulos brancos) da família dos linfócitos, originando a leucemia aguda grave. O achado é importante, pois, tendo um maior entendimento no nível molecular da doença e suas causas genéticas, é possível propor novos tratamentos, principalmente para os casos de recidiva ou em que o tratamento convencional não funciona," detalhou José Andrés Yunes, pesquisador do Centro Infantil Boldrini em Campinas (SP).
A mutação no gene produtor da IL-7R não é determinante da doença, mas ele também estimula novas mutações em outros genes - como o PAX5 e KRAS - que fazem com que a doença progrida.
"A mutação do IL-7R não é suficiente para originar a leucemia. Existem outros genes que também estão envolvidos na doença. Para que a leucemia ocorra são necessárias outras mutações, que colaborem com o IL-7R para interromper o programa de diferenciação celular e fazer com que as células continuem proliferando de maneira exagerada e sobrevivendo," explicou José Andrés.
Leucemia linfoide aguda
A leucemia linfoide aguda (LLA) consiste na proliferação exagerada de células B - progenitoras dos linfócitos. Atualmente terapias convencionais, como a quimioterapia, são eficazes em até 90% dos casos. No entanto, por serem tratamentos difíceis, a média de cura no Brasil está entre 40% e 50%. Nos adultos o sucesso terapêutico é pior que nas crianças, com 30% a 40% de sobrevida.
"A leucemia desenvolvida nos camundongos se assemelha a um subtipo da doença conhecido como "semelhante ao ph" (cromossomo Philadelphia), que é um tipo mais agressivo de leucemia aguda grave e acomete tanto crianças quanto adultos, mas é mais frequente nos adolescentes e adultos jovens," contou José Andrés.
Os pesquisadores realizaram ainda análises no exoma - parte do genoma onde ficam os genes codificadores de proteína e, portanto, onde há mais chance de ocorrerem mutações causadoras de doenças.
"Em Portugal [Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes] foram testadas algumas drogas que inibem os efeitos moleculares do IL-7R. Foram realizados estudos com painéis de fármacos que poderão, no futuro, serem testados em animais e depois em humanos até que se comprove a sua efetividade. De qualquer forma, são achados importantes, pois permitem também propor o tratamento mais indicado para cada paciente a partir da identificação dessas alterações," concluiu o pesquisador.
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