27/02/2024

Mergulhar nos jogos eletrônicos traz riscos e benefícios

Com informações da Agência Fapesp
Mergulhar nos jogos eletrônicos traz riscos e benefícios
Se você tem problemas com o escapismo, saiba que você não pode simplesmente correr dos seus problemas.
[Imagem: Sasin Tipchai/Pixabay]

Escapismo

A popularidade dos jogos digitais no Brasil é inegável: O país entrou para a lista dos dez maiores mercados do mundo e o número de jogadores já supera os 100 milhões - quase dois terços da população afirmam jogar.

Não por acaso, cresce a preocupação com os impactos dos jogos na saúde física e mental, especialmente de crianças e jovens - Por que tantas pessoas ocupam-se tanto com jogos eletrônicos?

Em busca de respostas bem fundamentadas, pesquisadores brasileiros fizeram um levantamento em toda a literatura científica, procurando estudos que abordaram essa questão. Eles então juntaram todos os estudos e compuseram uma conclusão geral, no que se convenciona chamar um "meta-análise".

A conclusão geral é que uma das principais razões pelas quais as pessoas buscam jogos virtuais é o escapismo, a tentativa de escapar da vida real em um mundo ficcional. O escapismo é um hábito relacionado a problemas de saúde psicológica, emocional e mental, também observado em casos de dependência de álcool, vício em pornografia e vício em redes sociais.

Os cientistas também observaram uma associação entre escapismo e narcisismo, um transtorno de personalidade marcado pela sensação de grandiosidade, bem como com falta de sucesso de estratégias cognitivas e comportamentais para lidar com exigências internas e externas, desenvolvimento do transtorno do jogo pela internet (TJI), solidão e dificuldade na regulação emocional.

Além disso, segundo os 36 estudos científicos analisados, feitos em dezenas de países, a busca por escapar da vida real pode ser exacerbada por fatores como ansiedade social, antecedentes competitivos, sofrimento psiquiátrico e baixa autoestima.

Quando o escapismo traz benefícios

Por outro lado, as pesquisas não mostraram apenas notícias preocupantes. O primeiro ponto a se considerar, dizem os pesquisadores, é que o escapismo não é a única motivação para jogar. A possibilidade de se tornar poderoso, o interesse na mecânica do jogo (números e percentagens), a competição, a socialização, o relacionamento, o trabalho em equipe, a descoberta e exploração do mundo, a interpretação de personagem e a personalização também têm sido relatados na literatura científica.

"Os jogos eletrônicos não são exclusivamente um ato de escapismo, mas uma forma de diversão. A natureza positiva ou negativa da prática depende de fatores como o contexto cultural," disse Lucas Marques, da Faculdade de Medicina da USP.

Além disso, o escapismo poderia funcionar como estratégia de regulação emocional ao distrair a atenção do jogador de situações emocionalmente intensas e promover confiança, determinação, sentimento de pertencimento e representação em comunidades virtuais, além de mitigar a solidão em pessoas ansiosas.

"Um dos artigos analisados na revisão tratava justamente de pessoas que jogavam para escapar da realidade do desemprego e conseguiam atingir um estado de autoconclusão - ao passar fases, experimentavam aumento de autoestima e bem-estar," contou Lucas.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Escaping through virtual gaming-what is the association with emotional, social, and mental health? A systematic review
Autores: Lucas M. Marques, Pedro M. Uchida, Felipe O. Aguiar, Gabriel Kadri, Raphael I. M. Santos, Sara P. Barbosa
Publicação: Frontiers in Public Health
DOI: 10.3389/fpsyt.2023.1257685
Siga o Diário da Saúde no Google News

Ver mais notícias sobre os temas:

Vícios

Diversão

Comportamento

Ver todos os temas >>   

A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.