Muitas mulheres não hesitam em escolher um sapato menor que o seu número se acharem que, com ele, elas vão ficar mais bonitas.
O problema fica maior quando essas mulheres têm filhas que procuram imitá-las, usando sandalinhas de salto para parecerem mocinhas.
Essa postura ingênua pode ocultar uma questão maior, que é a antecipação de fases na infância e a sensualização da criança.
O alerta é de Renata Augusto Martins e Roberto Teixeira Mendes, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. "As crianças e adultos não sabem o que podem estar suscitando com isso", adverte Renata.
O uso de calçados inadequados não contribui para o desenvolvimento motor e nem para a construção da feminilidade. Além do mais, a antecipação de fases na infância pode ter consequências perversas, afirma ela.
"As crianças hoje gostam muito de se fantasiar para se transformar. Saem assim pelas ruas. Só que uma coisa é brincar de ser princesa. A outra é crescer princesa na rua. Não está havendo momento lúdico em suas vidas e, o que é pior, estão passando por isso e as famílias nem percebem", afirma.
Sapatos de meninas
Os pesquisadores estudaram sobretudo o uso de calçados por meninas na faixa etária de um a sete anos, para compreender se eles prejudicam o andar.
Durante esta fase do desenvolvimento motor e da consciência corporal, a marcha independente é o ponto alto. O tipo de calçado que acompanha a criança durante esse aprendizado pode influenciar o desempenho de um caminhar seguro, alterando a largura, o tempo e o impacto durante cada passo.
Renata notou que as meninas, foco deste estudo, têm a seu favor o crescimento. Seus músculos e ossos acomodarão os pés e todo resto do corpo quando estiverem em pé ou andando.
Por outro lado, na idade adulta, poderão arcar com danos pelo uso de sapatos inadequados, hábito originado na infância. Poderão ter deformidades como as joanetes (geradas pela mudança na angulação dos ossos que atinge o dedão do pé, entortando) e o neuroma de Morton (lesão no nervo entre os dedos, que causa espessamento e dor).
Esses e outros comprometimentos dos pés se dão numa proporção de 9:1 nas mulheres em relação aos homens.
Consumismo infantil
A pesquisadora também adentrou a questão do consumismo. Sondou como ele é incutido nas crianças. Percebeu que, para elas, consumir é prazeroso. Está comprovado, inclusive, a liberação de endorfina no organismo, um hormônio que cria essa sensação.
Há anos, observa-se uma vasta oferta de sapatos com saltinho e de plástico, em geral com personagens infantis. Isso acaba envolvendo muito a criança. Agora, é certo que existe um consumo necessário. Só que, na maioria das vezes, vem repleto de mensagens subliminares que vão além dos danos ortopédicos, com forte apelo para a sensualização precoce.
"Vejo que o sapato ideal é o tênis e, tanto quanto possível, as crianças deveriam andar mais descalças," disse a pesquisadora.
Ver mais notícias sobre os temas: | |||
Ergonomia | Saúde da Mulher | Higiene Pessoal | |
Ver todos os temas >> |
A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.