24/06/2024

Madeira inocula vírus em questão de minutos

Site Inovação Tecnológica
Superfícies de madeira apresentam propriedades antivirais naturais
Os pesquisadores analisaram por quanto tempo os vírus permaneceram infecciosos em diferentes espécies de madeira e descobriram que algumas são melhores que outras.
[Imagem: Sailee Shroff - 10.1021/acsami.4c02156]

Propriedade antiviral da madeira

Durante a pandemia, houve muita polêmica no meio científico e médico se os vírus - especificamente o SARS-CoV-2 naquela ocasião - poderiam ser transmitidos por meio de superfícies, como corrimãos, cadeiras, mesas etc, o que levou ao uso generalizado de álcool em gel e desinfetantes.

Isso gerou pesquisas em busca de superfícies que possam reduzir o risco desse tipo de transmissão, mas que façam isso sem a ajuda de desinfetantes ou outros compostos químicos.

E a solução pode estar mais à mão do que se acreditava, mostraram Sailee Shroff e colegas da Universidade de Jyvaskyla, na Finlândia.

Acontece que a madeira possui propriedades antivirais naturais que podem reduzir o tempo de permanência dos vírus em sua superfície - e algumas espécies de madeira são mais eficazes do que outras na redução da transmissibilidade dos vírus.

Os vírus envelopados, como o coronavírus, podem viver até cinco dias nas superfícies; os vírus sem envelope, incluindo os enterovírus ligados ao resfriado comum, podem sobreviver por semanas, em alguns casos mesmo se as superfícies forem desinfetadas. Estudos anteriores demonstraram que a madeira possui propriedades antibacterianas e antifúngicas, tornando-a um material ideal para tábuas de corte, por exemplo.

No entanto, a capacidade da madeira para inativar vírus ainda não havia sido explorada.

Quais madeiras matam melhor os vírus?

Os pesquisadores analisaram por quanto tempo os vírus com e sem envelope permanecem infecciosos na superfície de seis tipos de madeira: Pinheiro silvestre, bétula prateada, amieiro cinzento, eucalipto, carvalho pedunculado e abeto norueguês.

Para determinar a atividade viral, eles lavaram a superfície de uma amostra de madeira com uma solução líquida em diferentes momentos, e depois colocaram essa solução em uma placa de Petri que continha células cultivadas. Depois de incubar as células com a solução, eles mediram o número (se houvesse) de células infectadas pelos vírus.

Os resultados dos experimentos com um coronavírus envelopado mostraram que o pinheiro, o abeto, a bétula e o amieiro precisam de apenas uma hora para reduzir completamente a capacidade do vírus de infectar as células, enquanto o eucalipto e o carvalho precisam de duas horas. O pinho teve o início mais rápido da atividade antiviral, começando após cinco minutos. O abeto ficou em segundo lugar, mostrando uma queda acentuada na infectividade após 10 minutos.

Para um enterovírus sem envelope, a incubação em superfícies de carvalho e abeto resultou na perda da capacidade de infecção dos vírus em cerca de uma hora, com o carvalho começando em 7,5 minutos e o abeto em 60 minutos. O pinheiro, a bétula e o eucalipto reduziram a infecciosidade do vírus após quatro horas e o amieiro não apresentou efeito antiviral.

Os pesquisadores concluíram que a composição química da superfície da madeira é a principal responsável pela sua funcionalidade antiviral. Embora a determinação dos mecanismos químicos exatos responsáveis pela inativação viral exija estudos mais aprofundados, eles afirmam que estas descobertas apontam para a madeira como um candidato promissor para materiais antivirais naturais e sustentáveis.

Agora é esperar que alguma equipe nacional decida repetir os testes usando madeiras brasileiras.

Fonte: Superfícies de madeira inoculam vírus em questão de minutos

Checagem com artigo científico:

Artigo: Tree Species-Dependent Inactivation of Coronaviruses and Enteroviruses on Solid Wood Surfaces
Autores: Sailee Shroff, Anni Peramaki, Antti Vaisanen, Pertti Pasanen, Krista Gronlund, Ville H. Nissinen, Janne Janis, Antti Haapala, Varpu Marjomaki
Publicação: ACS Applied Materials & Interfaces
Vol.: 16, 23, 29621-29633
DOI: 10.1021/acsami.4c02156
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