03/12/2024

Pesquisadores desenvolvem interface neural minimamente invasiva

Redação do Diário da Saúde
Interface neural minimamente invasiva dispensa abrir o crânio
Ilustração da técnica e inserção do cateter.
[Imagem: Joshua C. Chen et al. - 10.1038/s41551-024-01281-9]

Neurochip sem abrir o crânio

Uma nova técnica promete ser capaz de diagnosticar, gerenciar e tratar distúrbios neurológicos, oferecendo riscos cirúrgicos mínimos.

Estamos no campo dos neurochips, implantes cerebrais que prometem de tudo, de controlar doenças graves, como a epilepsia, passando pelo controle de máquinas apenas pelo pensamento e, quem sabe, em um futuro ainda distante, criar novos modos de entretenimento.

Por enquanto, contudo, as abordagens tradicionais para interagir com o sistema nervoso - mais especificamente com o cérebro - exigem a criação de um orifício no crânio para implantar os eletrodos ou o chip inteiro, o que nem de longe pode ser considerada uma abordagem benigna.

Em busca de alternativas menos drásticas e invasivas, Joshua Chen e seus colegas da Universidade Rice (EUA) desenvolveram um método inovador, conhecido como interface endocisternal, que permite tanto a leitura dos sinais elétrico dos neurônios quanto a estimulação dessas estruturas neurais - e isso pode ser feito em qualquer lugar, incluindo o cérebro e a medula espinhal, por meio do líquido cefalorraquidiano.

"Usando a interface endocisternal, podemos acessar várias estruturas do cérebro e da medula espinhal simultaneamente, sem nunca abrir o crânio, reduzindo o risco de complicações associadas às técnicas cirúrgicas tradicionais," disse o professor Jacob Robinson, coordenador da equipe.

Interface neural minimamente invasiva dispensa abrir o crânio
Testes de maior duração foram feitos em animais.
[Imagem: Joshua C. Chen et al. - 10.1038/s41551-024-01281-9]

Acesso pela medula espinhal

O truque para evitar abrir o crânio está justamente em usar o líquido cefalorraquidiano, que envolve o sistema nervoso, como um meio de transporte para os sinais. Usando uma punção lombar na parte inferior das costas, os pesquisadores demonstraram que é possível inserir um cateter flexível que pode acessar não apenas a medula espinhal, mas também o cérebro.

Feito com componentes bioeletrônicos miniaturizados, alimentado sem fio por magnetoeletricidade, todo o sistema pode ser implantado por meio de um pequeno procedimento percutâneo. Os eletrodos flexíveis podem ser levados livremente do espaço subaracnóideo espinhal até os ventrículos cerebrais.

"Esta é a primeira técnica relatada que permite que uma interface neural acesse simultaneamente o cérebro e a medula espinhal por meio de uma punção lombar simples e minimamente invasiva," disse o professor Peter Kan. "Ela introduz novas possibilidades para terapias em reabilitação de derrame, monitoramento de epilepsia e outras aplicações neurológicas."

As primeiras demonstrações confirmaram que os eletrodos do cateter podem ser guiados com facilidade para os espaços ventriculares e a superfície cerebral, onde são usados para a estimulação elétrica. Ao usar o implante magnetoelétrico, os pesquisadores conseguiram registrar sinais eletrofisiológicos, como ativação muscular e potenciais da medula espinhal.

Os resultados preliminares de segurança mostraram que a interface endocisternal permaneceu funcional por até 30 dias depois que o dispositivo eletrônico foi implantado - é um progresso, mas que mostra que a tecnologia também se limitará, a curto prazo, a casos muito graves, que requeiram tratamento intensivo em ambiente hospitalar.

"Esta tecnologia cria um novo paradigma para interfaces neurais minimamente invasivas e pode reduzir o risco de neurotecnologias implantáveis, permitindo o acesso a populações de pacientes mais amplas," concluiu Chen.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Endocisternal interfaces for minimally invasive neural stimulation and recording of the brain and spinal cord
Autores: Joshua C. Chen, Abdeali Dhuliyawalla, Robert Garcia, Ariadna Robledo, Joshua E. Woods, Fatima Alrashdan, Sean O’Leary, Adam Husain, Anthony Price, Scott Crosby, Michelle M. Felicella, Ajay K. Wakhloo, Patrick Karas, Nicole Provenza, Wayne Goodman, Sameer A. Sheth, Sunil A. Sheth, Jacob T. Robinson, Peter Kan
Publicação: Nature Biomedical Engineering
DOI: 10.1038/s41551-024-01281-9
Siga o Diário da Saúde no Google News

Ver mais notícias sobre os temas:

Neurociências

Cérebro

Implantes

Ver todos os temas >>   

A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.