Fármaco contra triplo-negativo
Pesquisadores brasileiros identificaram uma substância com potencial para combater tumores de mama triplo negativo, o subtipo de câncer de mama mais agressivo, com prognóstico menos promissor e com poucas terapias eficazes.
Por meio de experimentos de laboratório e análises de bioinformática, eles constataram que a substância, denominada MS023, leva a célula tumoral à autodestruição acionando um dos sistemas celulares de defesa, o sistema interferon.
"Conhecer as etapas que estão sendo afetadas nas células durante o câncer é fundamental para que tanto a comunidade científica como as empresas farmacêuticas consigam acelerar as estratégias para o desenvolvimento de novos medicamentos," afirmou Katlin Massirer, pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que fez a descoberta juntamente com pesquisadores do Canadá, China e Estados Unidos.
Primeiro, os pesquisadores caracterizaram a proteína metiltransferase 1 (PRMT1) como um bom alvo terapêutico, encontraram uma molécula antitumoral e elucidaram o seu modo de ação.
Em seguida, eles testaram in vitro 36 compostos que se ligam à PRMT1, considerada reguladora da proliferação de células no câncer de mama triplo negativo. Dessas, 15 moléculas tiveram um bom desempenho na redução do tumor, sendo que a molécula MS023 foi a que apresentou o melhor resultado.
Testes e mecanismo
Animais de laboratório tratados com a MS023 apresentaram desaceleração do avanço tumoral, enquanto em organoides, estruturas celulares mais complexas de laboratório, derivadas de células tumorais de pacientes portadoras do câncer, os tumores regrediram.
Restou então elucidar o mecanismo de ação da substância.
"Em pessoas saudáveis, a PRMT1 faz com que trechos de DNA sejam lidos ou sejam protegidos de acordo com as necessidades do corpo, em sintonia para a produção de proteínas importantes nas células", explica Katlin. "Entretanto, na presença da MS023, a leitura de algumas regiões do genoma ativa o sistema interferon em decorrência da diminuição de PRMT1. A ativação dessa defesa pode levar a célula doente à autodestruição," completou Felipe Ciamponi, coautor do trabalho.
A descoberta foi publicada em regime de "ciência aberta", o que significa que qualquer outro grupo de pesquisa ou empresa pode continuar os estudos a partir deste ponto para, depois dos testes de segurança e eficácia in vivo, eventualmente transformar o fármaco em um medicamento.
Câncer de mama triplo-negativo
O câncer de mama triplo negativo representa entre 15% e 20% dos casos e é responsável por 25% das mortes. A taxa de recidiva é considerada alta (mais de 30%) e a sobrevida é muito baixa após uma recorrência metastática.
Esse tipo de tumor é caracterizado pela ausência - na membrana da célula tumoral - de receptores de estrogênio, de progesterona e de fator de crescimento epidérmico humano 2 (HER2), proteínas que classificam os outros subtipos de câncer de mama (daí o nome triplo-negativo, referindo-se a estas três substâncias).
A identificação do tipo de receptor presente na célula tumoral é fundamental para a definição do tratamento - que é mais limitado no caso do câncer de mama triplo negativo.
Ver mais notícias sobre os temas: | |||
Câncer | Desenvolvimento de Medicamentos | Saúde da Mulher | |
Ver todos os temas >> |
A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.