Ciclos de sono
"Pessoas que moram perto da linha do Equador têm maior tendência à matutinidade, ou seja, preferência por acordar e dormir cedo. À medida que nos aproximamos dos pólos, os indivíduos vão se tornando mais vespertinos."
A explicação é do professor Mário Pedrazzoli, da Universidade de São Paulo (USP).
Ele acaba de conseguir provar sua hipótese, lançada em 2005, de que a latitude seria um dos elementos reguladores do ciclo de sono e vigília.
Assim, a dificuldade para acordar cedo que algumas pessoas apresentam pode ter outra explicação: além de fatores genéticos e ambientais, essa dificuldade pode ser maior ou menor dependendo da posição geográfica em que se vive.
Sono genético
A equipe coordenada pelo professor Mário já havia publicado na revista internacional Sleep os resultados de uma pesquisa que mostrou associação entre uma determinada variação no gene PER3 e a síndrome da fase atrasada do sono.
"Pessoas com esse distúrbio sentem sono muito mais tarde do que a média da população, por volta de quatro ou cinco horas da madrugada. Isso pode ser um problema para quem precisa acordar cedo", conta ele.
Embora a variação genética associada ao distúrbio do sono possa estar presente em até 10% da população, apenas uma parcela pequena desse grupo desenvolve a síndrome.
"Isso sugere que parte do problema é resultante da genética e parte, do ambiente. Surgiu então a suspeita de que a posição geográfica em que a pessoa vive pudesse influenciar na regulação do sono", disse Mário.
Gosto por dormir
Para testar a hipótese, os pesquisadores entrevistaram 16 mil pessoas de todos os Estados brasileiros por meio de um questionário que ficou disponível na internet entre 2005 e 2007. O levantamento contou com apoio do CNPq.
As perguntas buscavam investigar os horários em que as pessoas preferiam comer, trabalhar, fazer exercícios, dormir e acordar.
A cada resposta era atribuído um valor e a somatória final indicava se o indivíduo era do tipo matutino, vespertino ou intermediário.
Para interpretar os resultados, os cientistas se basearam na teoria de que a alteração entre períodos claros e escuros regula os processos fisiológicos do organismo, como o sono e o apetite. "Segundo essa teoria, quanto mais cedo o indivíduo receber o primeiro sinal luminoso pela manhã, mais cedo ele sentirá sono", explicou Mário.
Latitude e sono
Mas o horário em que o sol nasce em cada cidade não era o único fator que estava influenciando os resultados do estudo.
"Perto do Equador, o dia iluminado dura aproximadamente 12 horas o ano inteiro. Mas, quanto maior a latitude, maior é a variação no período iluminado. Percebemos que essa era a variável que fazia a diferença", explicou.
Isso quer dizer, por exemplo, que embora o sol nasça praticamente no mesmo horário em Natal e em Porto Alegre durante o verão, o pôr do sol acontece mais tarde no Sul do país, estimulando os moradores da região a ficarem acordados mais tempo.
Já no inverno, o sol se põe praticamente no mesmo horário no Norte e no Sul, mas nasce mais cedo em Natal do que em Porto Alegre, estimulando os potiguares a acordar e a dormir mais cedo do que os gaúchos.
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