03/03/2020

Genomas de coronavírus dos dois pacientes brasileiros são diferentes

Com informações da Agência Fapesp
Genomas de coronavírus dos dois pacientes brasileiros são diferentes
A descoberta mostra a dificuldade no desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus, que apresenta mutações rapidamente.
[Imagem: Wikimedia Commons]

Vírus diferentes

O genoma do novo coronavírus de amostra coletada do primeiro paciente diagnosticado no Brasil é diferente do genoma do segundo paciente que teve confirmação para a doença no país, também importado da Itália.

Além disso, os dois genomas são diferentes do sequenciamento feito em pacientes na China. Isso indicaria, segundo os pesquisadores, que está ocorrendo transmissão interna nos países da Europa.

"O primeiro isolado se mostrou geneticamente mais parecido com o vírus sequenciado na Alemanha. Já este segundo genoma assemelha-se mais ao sequenciado na Inglaterra. E ambos são diferentes das sequências chinesas. Tal fato sugere que a epidemia de coronavírus está ficando madura na Europa, ou seja, já está ocorrendo transmissão interna nos países europeus. Para uma análise mais precisa, porém, precisamos dos dados da Itália, que ainda não foram sequenciados," disse Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical da USP, que está trabalhando no sequenciamento com cientistas do Instituto Adolf Lutz.

Após a publicação da primeira sequência brasileira do SARS-CoV-2, causador da gripe covid-19, no dia 28 de fevereiro, pesquisadores italianos entraram em contato com a equipe brasileira para solicitar o compartilhamento dos protocolos usados.

Monitoramento de epidemias

Para fazer o sequenciamento, com monitoramento em tempo real, o grupo faz uso de um equipamento portátil conhecido como MinION, usado pela primeira vez no país em 2016 para mapear a evolução do vírus zika.

"É uma nova ferramenta para vigilância epidemiológica, que por enquanto só foi testada na África, durante a epidemia de ebola," disse Ester. "Queremos divulgar logo esta segunda sequência para ajudar o pessoal da Itália a analisar seus dados. Compartilhamos com os italianos o protocolo usado por nossa equipe e os colocamos em contato com o grupo do CADDE na Inglaterra."

Segundo a pesquisadora, a principal vantagem de se monitorar em tempo real uma epidemia é a possibilidade de identificar de onde exatamente veio o vírus que chegou ao país, o que ajuda na promoção de ações para reduzir a disseminação da doença.

A intenção é sequenciar os genomas dos vírus em todos os casos que forem confirmados no país. Mas se os casos positivos começarem a se multiplicar em larga escala, o trabalho vai passar a ser seletivo. "Nesse caso, o sequenciamento passará a ser feito por amostragem e com base em métodos estatísticos, de modo a garantir que os casos amostrados sejam representativos do total,", disse o pesquisador Cláudio Sacchi, do Instituto Adolfo Lutz.

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