10/07/2014

Genoma humano é reduzido para 19.000 genes

Redação do Diário da Saúde
Genoma humano é reduzido para 19.000 genes
Antes calculado em 100.000 genes, o genoma humano sofreu mais um revés. Pelo menos 1.700 genes não produzem proteínas e terão que ser retirados da anotação do genoma humano, trazendo o total para não mais do que 19.000 genes.
[Imagem: CNIO]

Não é à toa que os cientistas vêm reconhecendo cada vez mais uma crescente decepção com o DNA - ou, pelo menos, com que eles pensavam sobre o DNA.

Um novo estudo mostrou que mais de 99% dos genes que codificam proteínas humanas têm uma origem que antecede os primatas, mais de 50 milhões de anos atrás.

O estudo questiona as anotações genômicas de diferentes espécies, mostrando que, olhando unicamente para o DNA, as diferenças entre espécies é muito menor do que se imaginava - menos de 10 genes de diferença entre humanos e camundongos, por exemplo.

Encolhimento do genoma

Como os nutrientes são metabolizados e como os neurônios se comunicam no cérebro são apenas algumas das mensagens codificadas pelas cerca de 3 bilhões de letras que compõem o genoma humano.

A detecção e caracterização dos genes presentes nessa massa de informações é uma tarefa complexa, que tem sido uma fonte de debate desde as primeiras tentativas sistemáticas por parte do Projeto Genoma Humano, há mais de dez anos.

As estimativas iniciais apontavam que o ser humano tinha cerca de 100 mil genes, mas esse número vem caindo estudo após estudo.

Agora, a equipe de Alfonso Valencia e Michael Tress, do Centro de Pesquisa Nacional do Câncer da Espanha, atualizaram o número de genes humanos - aqueles que podem gerar proteínas - para 19.000. O resultado contém 1.700 genes a menos do que os presentes na anotação anterior.

Anotação gênica é o processo de interpretar as informações geradas pelo sequenciamento genético, um trabalho complexo e difícil que inclui "traduzir" as informações em nível dos nucleotídeos, das proteínas e dos processos celulares.

Mas o mais surpreendente é que o novo trabalho, publicado na revista Human Molecular Genetics, concluiu que quase todos esses 19.000 genes têm antepassados antes do aparecimento dos primatas, 50 milhões de anos atrás.

A dupla fala sobre o "encolhimento do genoma humano", afirmando que "ninguém poderia ter imaginado alguns anos atrás que um número tão pequeno de genes pudesse resultar em algo tão complexo" quanto um ser humano.

Mas eles vão além, e propõem interpretações novas para o advento dessa complexidade.

Nova interpretação do genoma

"As diferenças fisiológicas e de desenvolvimento entre os primatas provavelmente são causadas pela regulação dos genes e não por diferenças nas funções básicas das proteínas em questão," propõem os pesquisadores.

Uma hipótese sugerida por eles é que mais de 90% dos genes humanos produzem proteínas que se originaram em metazoários ou organismos multicelulares do reino animal centenas de milhões de anos atrás - mais de 99% para os genes cuja origem é anterior ao surgimento dos primatas.

"O número de novos genes que separa os seres humanos dos camundongos [os genes que evoluíram desde a separação dos primatas] pode até ser menos de dez," acrescenta David Juan, coautor do estudo.

Assim, a complexidade humana provavelmente é determinada mais pela forma como os genes são usados, e não pelo número de genes.

As diferenças entre os seres vivos estariam então nas milhares de alterações químicas que ocorrem nas proteínas, ou no controle da produção dessas proteínas por regiões não codificantes do genoma, que compreendem cerca de 90% de todo o genoma.

Isto está de acordo com resultados anteriores do projeto ENCODE, do qual essa pesquisa faz parte, e que já havia sinalizado com o aprofundamento dos mistérios do genoma humano.

Segundo os pesquisadores, os novos resultados vão remodelar a forma como se tem pensado no DNA e no genoma de forma geral.

"Nosso trabalho sugere que vamos ter que refazer os cálculos para todos os genomas, não apenas para o genoma humano," afirmam eles.

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