03/10/2024

Genes moldam nossa personalidade? Alguns cientistas ainda acreditam que sim

Redação do Diário da Saúde
Genes moldam nossa personalidade? Alguns cientistas ainda acreditam nisso
Se até animais têm personalidade - nem mesmo vermes comportam-se do mesmo jeito - fica cada vez mais difícil sustentar uma relação entre genética e personalidade.
[Imagem: N. Sören Häfker et al. - 10.1371/journal.pbio.3002572]

Genética e personalidade

Em mais um estudo controverso, dentro de um campo inteiramente polêmico, cientistas garantem estar um passo mais perto de vincular a personalidade das pessoas aos seus genes.

Priya Gupta e colegas da Universidade de Yale, nos EUA, realizaram um estudo de associação genômica ampla para procurar variações genéticas, chamadas "locus", associadas a cada um dos "Cinco Grandes" traços de personalidade: Extroversão, abertura, amabilidade, neuroticismo e conscienciosidade.

Reunindo dados de 700.000 indivíduos e um bocado de malabarismos estatísticos, a equipe acredita ter encontrado "alguns sinais" da conexão entre genética e traços de personalidade.

Ao comparar os resultados da avaliação de personalidade com a análise de variações no DNA dos participantes, os cientistas encontraram 62 loci associados ao neuroticismo e um loci para agradabilidade. Indo um pouco além na estatística, combinando seus próprios resultados com dados publicados anteriormente, eles realizaram uma meta-análise cuja conclusão aponta para cerca de 200 loci genéticos entre os cinco traços de personalidade.

Estima-se que o genoma humano contenha entre 20.000 e 25.000 genes codificadores de proteínas. Cada um desses genes ocupa um locus específico em um cromossomo.

Insistência

Os resultados estão longe de serem conclusivos ou indicarem causalidade. Mas, se um dia alcançarem uma precisão digna de respeito, os cientistas terão chegado a uma das conclusões mais revolucionárias da ciência: A de que o homem é uma máquina, cujo comportamento é determinado por seus genes e, portanto, nada tem a fazer quanto a "tornar-se melhor", "aperfeiçoar-se", "evoluir como pessoa" ou qualquer outra meta desse tipo, que acompanham o ser humano intuitivamente desde o início dos tempos.

Curiosamente, a equipe responsável pela pesquisa reconhece isto: "Sua personalidade se adaptará e mudará ao longo do tempo, então há uma relação temporal que não estamos necessariamente capturando com a forma transversal que estamos observando a personalidade em nosso estudo. Só porque estamos encontrando essas variações genéticas não significa que essas são coisas que estão fadadas e que você não pode mudar em sua vida," disse o professor Daniel Levey, coordenador da pesquisa.

Esse reconhecimento apenas torna mais difícil compreender o porquê da insistência nessa linha de pesquisa: "Estamos um passo mais perto desse processo de aumentar o tamanho da amostra para poder entender mais claramente quais variantes estão realmente relacionadas a esses traços de personalidade," disse o próprio professor Levey.

Checagem com artigo científico:

Artigo: A genome-wide investigation into the underlying genetic architecture of personality traits and overlap with psychopathology
Autores: Priya Gupta, Marco Galimberti, Yue Liu, Sarah Beck, Aliza Wingo, Thomas Wingo, Keyrun Adhikari, Henry R. Kranzler, VA Million Veteran Program, Murray B. Stein, Joel Gelernter, Daniel F. Levey
Publicação: Nature Human Behavior
DOI: 10.1038/s41562-024-01951-3
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