01/12/2022

Explicação de características pessoais pela genética é falha, mostram pesquisadores

Redação do Diário da Saúde
Explicação de características pessoais pela genética contém falhas
Só recentemente começou a ficar claro para os cientistas que o câncer não é tão puramente genético quanto se pensava.
[Imagem: David Wishart et al. - 10.3390/metabo12020154]

Padrões de casamento e genética

Usando as tecnologias mais modernas de sequenciamento do genoma, os cientistas têm procurado entender as associações genéticas entre características físicas e o risco de doenças, esperando que as descobertas da genética possam apontar pistas para combater doenças.

No entanto, várias dessas equipes especializadas têm alertado que não se deve confiar demais nas estimativas das correlações genéticas. O problema é que essas estimativas são afetadas por fatores não biológicos mais do que os cientistas haviam avaliado a princípio.

"Se você apenas olhar para duas características que são elevadas em um grupo de pessoas, você não pode concluir que essas características estão lá pelo mesmo motivo," destaca o professor Richard Border, da Universidade da Califórnia de Los Angeles. "Mas tem havido uma espécie de suposição de que, se você puder rastrear isso até os genes, você teria a história causal."

Por exemplo, a pesquisa mais recente da equipe do professor Border revelou que os métodos atualmente usados para avaliar as relações genéticas entre as características simplesmente não levam em conta os padrões de formação de casais, que irão passar sua genética adiante. Desta forma, muitas estimativas de quão fortemente características e doenças compartilham sinais genéticos acabam sendo largamente exageradas.

Formação de casais e correlação genética

As estimativas de correlação genética normalmente assumem que a formação de casais é aleatória. Mas, no mundo real, os parceiros tendem a formar pares devido a muitos interesses compartilhados e às estruturas sociais às quais pertencem. Como resultado, algumas correlações que pesquisas anteriores atribuíram à biologia compartilhada pelo casal via genética podem na verdade representar suposições estatísticas incorretas.

Por exemplo, estimativas anteriores de sobreposição genética entre índice de massa corporal (IMC) e escolaridade provavelmente refletem esse tipo de estrutura populacional, induzida por "acasalamento seletivo de características cruzadas", ou como indivíduos de uma característica tendem a se associar com indivíduos de outro traço.

A equipe afirma que essas estimativas de correlação genética merecem mais escrutínio, não podendo ser tomadas pelo valor de face, sobretudo quando se leva em conta que tais estimativas têm sido usadas para prever o risco de doenças, guiar pesquisas de novas terapias, fundamentar diagnósticos e até moldar argumentos sobre o comportamento humano e questões sociais.

Os autores destacam diretamente que muitos cientistas têm colocado ênfase exagerada nas estimativas de correlação genética com base na ideia de que estudar os genes, por eles serem inalteráveis, pode eliminar os fatores de confusão.

Com base em sua análise de dois grandes bancos de dados de características conjugais, contudo, os pesquisadores descobriram que o acasalamento seletivo de pessoas com características cruzadas está fortemente associado às estimativas de correlação genética e, por conta disso, pode ser o responsável por uma porção "substancial" das estimativas da correlação genética.

Explicação de características pessoais pela genética contém falhas
Hoje, a herança epigenética, uma espécie de hereditariedade fora do DNA, ganhou ampla aceitação na comunidade científica.
[Imagem: Laura Gaydos]

Genética e comportamento

Os pesquisadores também examinaram estimativas de correlação genética de transtornos psiquiátricos, que provocaram debate na comunidade psiquiátrica porque parecem mostrar relações genéticas entre transtornos que aparentemente têm pouca semelhança, como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e esquizofrenia.

Eles descobriram que as correlações genéticas para uma série de características não relacionadas podem ser plausivelmente atribuídas ao acasalamento seletivo de características cruzadas e práticas de diagnóstico imperfeitas.

Por outro lado, sua análise encontrou ligações mais fortes para alguns pares de traços, como transtornos de ansiedade e depressão grave, sugerindo que realmente existe pelo menos alguma biologia compartilhada.

"Mas mesmo quando há um sinal real, ainda estamos sugerindo que estamos superestimando a extensão desse compartilhamento," concluiu Border.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Cross-trait assortative mating is widespread and inflates genetic correlation estimates
Autores: Richard Border, Georgios Athanasiadis, Alfonso Buil, Andrew J. Schork, Na Cai, Alexander I. Young, Thomas Werge, Jonathan Flint, Kenneth S. Kendler, Sriram Sankararaman, Andy W. Dahl, Noah A. Zaitlen
Publicação: Science
Vol.: 378, Issue 6621 pp. 754-761
DOI: 10.1126/science.abo2059
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