Ler a mente
É possível ler a mente de uma pessoa analisando os sinais elétricos do seu cérebro?
Esta é uma das grandes questões das neurociências, mas a resposta a essa pergunta pode ser muito mais complexa do que a maioria dos cientistas pensava e do que as pessoas leigas estão sendo levadas a acreditar.
Trabalhando na interseção da inteligência artificial e da neurociência, pesquisadores acabam de concluir que um conjunto de dados usado por quase todas as pesquisas científicas para tentar responder a esta pergunta é... confuso, para dizer o mínimo.
O problema é que, como ele tem sido muito utilizado, grande parte das "descobertas de arregalar os olhos" anunciadas nos últimos anos não tem qualquer valor porque foram baseadas nesse conjunto de dados, que levam a conclusões falsas.
Banco de dados contaminado
A equipe realizou testes extensivos ao longo de mais de um ano no conjunto de dados, que contém a atividade cerebral de voluntários que participaram de um experimento no qual eles olhavam para uma série de imagens - cada indivíduo usava um boné com dezenas de eletrodos monitorando seu cérebro enquanto viam as imagens.
Os pesquisadores começaram a questionar o conjunto de dados quando não conseguiram obter resultados semelhantes em seus próprios testes. Foi quando eles começaram a analisar os resultados anteriores e descobriam que o famoso conjunto de dados usado pelos neurocientistas de todo o mundo está "contaminado" por uma falta de aleatoriedade.
O problema é que o grupo original de cientistas que compilou o banco de dados usou os exames de eletroencefalografia (EEG) de uma forma que o próprio conjunto de dados foi contaminado.
A eletroencefalografia fornece informações sobre a atividade cerebral que poderiam, em princípio, ser usadas para interpretar o que está acontecendo no cérebro - aí incluídos os pensamentos, ao menos teoricamente.
"Acontece que o banco de dados foi compilado sem randomizar (tornar aleatória) a ordem das imagens, de modo que os pesquisadores podem saber qual imagem estava sendo vista apenas lendo as informações de tempo e ordem contidas no EEG, em vez de resolver o problema real de decodificar a percepção visual das ondas cerebrais," explica o professor Jeffrey Mark Siskind, da Universidade Purdue (EUA).
Seu colega Hari Bharadwaj complementa: "Este é um dos desafios de trabalhar em áreas de pesquisa interdisciplinares. Questões científicas importantes muitas vezes exigem trabalho interdisciplinar. O problema é que, às vezes, pesquisadores treinados em uma área não estão cientes das armadilhas comuns que podem ocorrer ao aplicar suas ideias em outra área. Neste caso, o trabalho anterior [a compilação do banco de dados] parece ter sofrido de uma desconexão entre os cientistas do aprendizado de máquina/IA e as armadilhas que são bem conhecidas dos neurocientistas."
Começar de novo
Assim, por mais que os resultados de experimentos recentes tenham-se mostrado promissores na leitura da mente, a difícil conclusão é que todos os que se basearam nesse banco de dados mais utilizado em todo o mundo não têm validade.
"A questão de saber se alguém pode ler a mente de outra pessoa através da atividade elétrica do cérebro é muito válida. Nossa pesquisa mostra que é necessário uma abordagem melhor," concluiu o pesquisador Ronnie Wilbur, membro da equipe.
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