29/03/2018

Eleitores das democracias modernas não elegeriam Robin Hood

Redação do Diário da Saúde

Não quero benefícios para os pobres

Os eleitores das democracias modernas há muito tempo têm o poder de tirar um pouco do excesso dos ricos para dar aos pobres e amenizar as enormes desigualdades econômicas e sociais que separam a grande maioria dos cidadãos de uma nação das suas elites super-ricas.

Mas, se você oferecer a cada eleitor individualmente a chance de atuar como Robin Hood, a maioria deles - mesmo em países ricos e menos desiguais - mostra pouco interesse em fazer transferências de riqueza em larga escala dos extremamente ricos para os extremamente pobres, optando por redistribuir apenas cerca de 12% de todos os fundos disponíveis para reduzir as desigualdades entre ricos e pobres.

O experimento randomizado foi feito com uma amostra representativa da população da Alemanha e dos EUA - cerca de 5.000 adultos - e envolvia redistribuir um fundo social, e não doações pessoais.

"Os participantes do nosso experimento estavam dispostos a tolerar um grau considerável de desigualdade, mesmo em um ambiente onde eles tinham controle total sobre a distribuição final da riqueza e não havia custos para a redistribuição," escreveram Michael Bechtel (Universidade de Washington - EUA), Roman Liesch (Universidade de St. Gallen - Suíça) e Kenneth Scheve (Universidade de Stanford - EUA).

Contra a igualdade

Os resultados sugerem que peculiaridades do comportamento humano podem explicar por que os eleitores nos países democráticos não conseguiram reverter as crescentes desigualdades econômicas, antes pelo contrário, alimentando a polarização política e o extremismo ao redor do globo, que envolve culpabilizar os pobres, e não o sistema econômico que não lhes dá oportunidades.

"Uma descoberta fundamental do nosso estudo é que os indivíduos também estão divididos sobre como responder a cenários nos quais eles são mais ricos do que outras pessoas e cenários nos quais eles são mais pobres. Aqueles que tiram dos ricos também não tendem a dar aos pobres, e os indivíduos dispostos a dar aos pobres não tendem a tirar dos ricos," disse Roman Liesch.

"Nossas descobertas mostram que, quando os indivíduos estão expostos à desigualdade e têm a chance de equalizar a riqueza, muitos ainda se abstêm de fazê-lo. Também descobrimos que esse comportamento prediz de maneira significativa se um indivíduo apoia maiores impostos para os ricos e a provisão de benefícios de bem-estar para os pobres," acrescentou Kenneth Scheve.

Em outras palavras, se o mundo está tendo que lidar com pobres cada vez mais pobres e ricos cada vez mais ricos, o problema não está exclusivamente na classe política, como comumente se considera.

Os resultados foram publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

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