Por que só no Brasil?
A epidemia de microcefalia no Brasil continua um mistério para os cientistas - se o vírus zika é responsável pelos danos neurológicos às crianças, por que não há uma epidemia similar nos outros países também duramente atingidos pelo vírus?
No Brasil, a taxa de microcefalia superou a marca de 1.500 casos confirmados. Mas, na Colômbia, um estudo envolvendo cerca de 12.000 mulheres grávidas infectadas com o vírus zika não identificou nenhum caso de microcefalia.
Talvez haja outra razão para a epidemia no Brasil - é o que defende um novo relatório feito por cientistas do Instituto de Sistemas Complexos da Nova Inglaterra (NECSI - EUA).
Para os autores do trabalho, o número de "casos faltantes" na Colômbia e em outros lugares afetados pelo zika levanta sérias questões sobre a presumida ligação entre o vírus zika e a microcefalia, anunciada como "consenso científico" por alguns pesquisadores e reconhecida até mesmo pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças Transmissíveis (CDC) dos Estados Unidos.
Por que não há microcefalia na Colômbia?
O grande estudo de mulheres colombianas grávidas infectadas com zika foi publicado pelo renomado New England Journal of Medicine.
Das cerca de 12.000 mulheres grávidas com sintomas clínicos de infecções pelo zika até 28 de Março, não houve nenhum relato de caso de microcefalia até o dia 2 de Maio. Ao mesmo tempo, foram relatados quatro casos de zika e microcefalia para mulheres assintomáticos para infecções do zika e que, portanto, não foram incluídas no estudo.
O que os autores da análise se perguntam é: Será possível que seja necessário mais tempo para que os nascimentos na Colômbia deem origem aos números elevados vistos no Brasil?
O que ocorre é que os números não batem, defende o relatório do NECSI, cujos autores fazem o seguinte raciocínio: os casos de zika e microcefalia que não fazem parte do estudo mostram que existem muitas mais gestações afetadas pelo zika sem sintomas; como houve quatro casos de microcefalia com zika, e nenhum no estudo, deve haver cerca de quatro vezes mais casos de zika que permanecem não declarados; isto significa que existem pelo menos 60.000 gestações com infecção pelo zika na Colômbia. Mas sem microcefalia ou outros danos neurológicos.
O relatório do NECSI conclui que os quatro casos de microcefalia observados na Colômbia até 28 de abril são apenas o que seria de se esperar devido à taxa normal ocorrência da condição - a taxa de microcefalia esperada para países sem infecções pelo zika é de 2 em cada 10.000 nascimentos, o que dá exatamente os quatro casos verificados.
Causalidade entre zika e microcefalia questionada
À luz destas evidências, o NECSI defende que a causalidade entre zika e microcefalia no Brasil, assumida pelos cientistas e pelas organizações de saúde, deve ser reconsiderada.
Uma possibilidade levantada pelos pesquisadores é o pesticida piriproxifeno, aplicado na água potável em algumas partes do Brasil para matar as larvas dos mosquitos que transmitem zika, dengue e chikungunya.
O piriproxifeno é um análogo para o hormônio juvenil do inseto, que reage com o ácido retinoico, que é conhecido por causar microcefalia.
Um grupo de médicos do Brasil, Argentina e do Centro de Pesquisas Científicas em Toxicologia, da Suécia, além do próprio NECSI, já pediram mais estudos da potencial ligação entre o piriproxifeno e a microcefalia.
O novo relatório questionando a causalidade entre o vírus zika e a microcefalia, chamado Is Zika the cause of Microcephaly? pode ser obtido gratuitamente no site da instituição. Os outros dois estudos citados podem ser lidos por assinantes nas publicações científicas: Zika Virus and Birth Defects - Reviewing the Evidence for Causality e Zika Virus Disease in Colombia - Preliminary Report.
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