Dor nos jelhos
Estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP revela que alterar a maneira de realizar tarefas do dia-a-dia para contornar a Dor Anterior no Joelho (DAJ) pode levar a um menor equilíbrio e estabilidade da musculatura envolvida nesse processo e, ainda, com o passar do tempo, a uma "fraqueza" muscular das articulações do joelho.
Em função desses resultados, o autor do estudo, o fisioterapeuta Marcelo Camargo Saad, alerta para a necessidade de mudanças nos processos de reabilitação dessas pessoas.
Participaram da pesquisa 30 voluntárias, mulheres sedentárias, de 20 a 25 anos, sendo 15 saudáveis, grupo controle, e 15 com DAJ.
Elas foram submetidas a exames de eletromiografia dos músculos Vasto Medial Oblíquo, Vasto Lateral Oblíquo, Vasto Lateral Longo, que são estabilizadores da articulação fêmoro-patelar e glúteo médio, juntamente com a avaliação de uma plataforma de força durante as atividades de subida e descida, os equipamentos foram sincronizados durante a coleta dos dados.
Eletromiografia
Os resultados revelaram que o grupo com DAJ apresentou maior área de deslocamento do centro de pressão para as duas situações, tanto subida como descida. Já, durante a descida do step, realizada com a perna em que o joelho tinha dor, no caso a perna direita, os pacientes apresentaram menor magnitude da força de reação do solo, ou seja, descarregaram menos peso naquela perna.
A avaliação eletromiográfica mostrou que a atividade de subida apresenta maior atividade muscular comparada a descida. Quando comparados os dois grupos, o grupo com dor apresentou menor atividade muscular em relação ao grupo saudável.
"Entendemos que o quadro de dor faz com que estas pessoas modifiquem a maneira de realizar estas atividades, ou tentem outras "estratégias" para realizá-las e assim sentirem menos dor", explica o fisioterapeuta. "Além disso, a menor atividade da musculatura pode não ser suficiente para estabilizar a articulação do joelho, o que pode agravar a o quadro de dor, pois as estruturas - patela, tendões, ligamentos, podem sofrer maiores níveis de descarga de peso durante as atividades, em virtude, de uma baixa atividade ou possível fraqueza muscular."
Reabilitação
Por isso, nas condições experimentais utilizadas, o pesquisador concluiu que no processo de reabilitação destes pacientes as atividades de subida devem ser iniciadas antes das atividades de descida. "A subida é uma atividade menos dolorosa para eles, apresenta maior oscilação durante sua realização, ou seja, é mais instável e envolve uma maior ativação da musculatura.
Assim seu treinamento poderia trazer benefícios de estabilidade e fortalecimento muscular até o avanço no tratamento, para então iniciar atividades de descida que é a atividade a ser treinada pois é menos tolerada por pacientes com DAJ.
Nos exercícios de reabilitação com atividades de subida e descida de escadas, o profissional deve sempre começar pela subida, pois envolve uma maior ativação e fortalecimento da musculatura, treino do equilíbrio e melhora da estabilidade.
"Subir não traz tanta dor e, posteriormente, com o ganho de força e estabilidade, pode ser iniciada a atividade de descida. Descer é o maior desafio para estes pacientes porque é a atividade que traz maior descarga de peso e, consequentemente, maior dor, mas por outro lado ativa menos a musculatura."
Dor no joelho
Segundo Saad, as causas da DAJ ainda não estão estabelecidas na literatura, por isso o objetivo do seu trabalho foi avaliar o controle postural e de equilíbrio durante atividades de subida e descida de degraus.
E, ainda, o nível de sobrecarga e descarga de peso nos membros inferiores, além da atividade eletromiográfica, ou seja, atividade elétrica dos músculos estabilizadores da patela e do quadril (especificamente o músculo glúteo médio), esse para avaliar a estabilização da cintura pélvica. A instabilidade da cintura pélvica/quadril também pode levar à quadros dolorosos no joelho. "Esses são exercícios utilizados em protocolos de reabilitação de indivíduos com DAJ."
A pesquisa foi concluída em maio deste ano, orientada pela professora Débora Bevilaqua Grossi.
Os projetos futuros agora incluirão reabilitação, avaliação cinemática em três dimensões e também pacientes com Osteoartrite de joelhos, patologia que acomete muitas pessoas que são acompanhadas no Hospital das Clínicas da FMRP. Colaboraram com o estudo Lilian Ramiro Felício e Rogério Ferreira Liporaci.
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