29/12/2015

Gordura corporal tem neurônios que falam com o cérebro

Redação do Diário da Saúde
Neurônios na gordura corporal
A expectativa é que, uma vez que se aprenda a modular o comportamento desses neurônios adiposos, possa ser possível desenvolver novas terapias anti-obesidade e outros distúrbios metabólicos.
[Imagem: Roksana Pirzgalska/IGC]

Nervos na gordura

Ao contrário do que se pensava, o tecido adiposo no corpo humano possui conexões nervosas.

E, abrindo o caminho para muitas intervenções, a estimulação direta desses neurônios leva à degradação da gordura.

Esta descoberta marcante, que acaba de ser publicada pela revista Cell, foi feita pela equipe da pesquisadora Ana Domingos, do Instituto Gulbenkian de Ciência (Portugal), em colaboração com o grupo do professor Jeffrey Friedman, da Universidade Rockefeller (EUA).

A expectativa é que, uma vez que se aprenda a modular o comportamento desses neurônios adiposos, possa ser possível desenvolver novas terapias anti-obesidade e outros distúrbios metabólicos.

Neurônios simpáticos

"Nós dissecamos estas fibras nervosas do tecido gordo de camundongos e, usando marcadores moleculares, identificamos um [novo] tipo de neurônio, os neurônios simpáticos," explicou Ana Domingos.

Mais do que isso, prossegue a pesquisadora, "quando utilizamos uma técnica de imagem ultrassensível no tecido adiposo vivo de um camundongo, observamos que as células de gordura são encapsuladas por estes terminais nervosos simpáticos".

A equipe então usou uma técnica chamada optogenética, alterando geneticamente os animais para que os neurônios simpáticos fossem ativados por luz azul, permitindo assim analisar sua função no tecido adiposo.

"A ativação local destes neurônios leva à liberação de norepinefrina, um neurotransmissor que promove uma cascata de sinais nas células gordurosas que levam à sua degradação. Sem estes neurônios, a leptina não é capaz de promover a degradação da gordura," explicou a pesquisadora.

Leptina

O tecido gorduroso ou adiposo representa de 20 a 25% do peso do corpo humano e funciona como um recipiente para armazenamento de energia, sob a forma de triglicérides - há ainda a gordura marrom, responsável por queimar energia.

Há cerca de vinte anos, a equipe do professor Jeffrey Friedman identificou um hormônio, a leptina, que é produzida pelas células do tecido adiposo e informa o cérebro sobre a quantidade de gordura disponível no corpo.

Níveis baixos de leptina aumentam o apetite e diminuem o metabolismo basal, enquanto níveis altos de leptina reduzem o apetite e promovem a degradação de gordura, aproveitando sua energia.

A leptina funciona assim como um sinal neuroendócrino que mantém a massa gorda do corpo dentro de níveis estáveis. No entanto, até agora não se sabia como o cérebro atua no tecido adiposo em resposta à leptina - o papel é desempenhado pelos agora identificados neurônios simpáticos.

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