Leucemia mielóide aguda
Um grupo de pesquisadores brasileiros, apoiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT), em parceria com cientistas do Canadá e Estados Unidos, descobriram novos fatores de risco genético para o desenvolvimento da leucemia mielóide aguda, que é um tipo de câncer caracterizado pela rápida proliferação de células anormais que se acumulam na medula óssea.
A descoberta, que já é resultado do trabalho do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Células-Tronco e Terapia Celular, foi publicada na edição de janeiro da revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Telômeros
"Esse trabalho lança um conceito novo de que o encurtamento excessivo dos telômeros, as extremidades dos cromossomos, possa ser um fator de risco para o câncer e dá apoio à teoria da origem cromossômica dele, ou seja, que os primeiros eventos que dão origem ao câncer ocorram no cromossômo e não necessariamente que sejam mutações pontuais", explicou o coordenador do projeto, Rodrigo Calado, pesquisador brasileiro no National Institutes of Health (NIH), em Bethesda (EUA).
O trabalho foi desenvolvido por pesquisadores brasileiros do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e Centro de Terapia Celular de Ribeirão Preto (SP), que participam do INCT de Células-Tronco e Terapia Celular, em conjunto com norte-americanos do Leukemia Department do M.D. Anderson Cancer Center, em Houston, Texas, e canadenses da British Columbia Cancer Agency do Department of Medicine, University of Britsh Columbia Cancer Center, em Vancouver.
Cadarço de sapato
A pesquisa, iniciada em 2006, identificou as mutações na enzima chamada telomerase como fatores de risco genético responsáveis para o desenvolvimento da leucemia mielóide aguda. "Telomerase é uma enzima específica responsável por manter o comprimento dos telômeros. Telômeros são as extremidades distais dos cromossomos", explicou o pesquisador Calado.
Segundo o coordenador, quando ocorre a divisão celular, os telômeros não são duplicados completamente e as células filhas passam a ter telômeros cada vez mais curtos. "São como as pontas plásticas de um cadarço de sapato. Se essas pontas estragam, o cadarço se desfia e perde. A telomerase serve exatamente para reparar o desgaste das pontas dos cromossomos e manter a estabilidade deles", disse.
Os pesquisadores analisaram um total de 594 pacientes com leucemia mielóide aguda e 1.110 indivíduos saudáveis para as mutações na telomerase. Deste total de pacientes, 133 eram do Brasil, estudados na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), 89 no M.D. Anderson Cancer Center e 372 pacientes do British Columbia Cancer Agency.
Os resultados observados indicaram que a frequência de mutações em pacientes com a leucemia foi mais de três vezes maior do que nos controles, indicando uma associação, o que causa uma diminuição da função da telomerase. "A idéia era que se a telomerase sofre mutações e não funciona adequadamente, há um maior desgaste dos telômeros e a célula-tronco hematopoética teria mais chances de adquirir alterações em seus cromossomos e de desenvolver uma leucemia", disse Calado.
Um passo para a prevenção
Com a descoberta, surge um conceito novo para este tipo de leucemia. "Vimos que o encurtamento telomérico excessivo pode ser um fator de risco para a leucemia", revela o coordenador do projeto.
O impacto deste resultado alcançado é um novo caminho para a prevenção da doença. "Podemos imaginar que prevenir o encurtamento telomérico e esse desgaste dos telômeros poderia ser a chave para que possa prevenir o aparecimento da leucemia", disse o pesquisador. O próximo passo para a pesquisa é entender como o encurtamento telomérico leva mecanisticamente aos eventos cromossômicos e ao desenvolvimento de uma célula leucêmica.
Em consonância com o novo conceito lançado, um grupo de pesquisadores islandeses publicou, no final de janeiro, um artigo na revista Nature Genetics apontando o gene da telomerase como fator de risco para múltiplos cânceres.
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