Sepse
A sepse - ou sépsis - causa cerca de 11 milhões de mortes por ano em todo o mundo.
A sepse resulta de uma infecção generalizada e caracteriza-se por desencadear uma resposta imune desregulada com alto risco de morte. Sobreviver a uma infecção grave requer a ativação de mecanismos tanto de resistência, que reduzem os números de agentes infeciosos, como de tolerância à doença, que controlam dos danos provocados pela resposta imune e dos próprios agentes infeciosos que a iniciaram. Cerca de um quarto dos doentes com sepse morre mesmo que o agente infecioso seja completamente erradicado.
O tratamento baseia-se no uso de antibióticos e medidas de suporte ao funcionamento dos órgãos, mas isso muitas vezes falha devido a tentativas sem sucesso de modular a resposta imune.
Para tentar desenvolver uma nova linha de ação, uma equipe do Instituto Gulbenkian de Ciência (Portugal) propôs-se a identificar mecanismos de tolerância à infecção focando no papel que as mitocôndrias têm nestes processos.
A maioria dos organismos tem mecanismos de defesa contra perturbações da homeostasia (mecanismos fisiológicos que permitem aos organismos responder às constantes mudanças internas e ambientais), que são essenciais para a iniciação da resposta imune.
Um dos gatilhos principais envolve a ativação de sinais de alarme assim que as diversas estruturas internas da célula começam a falhar. Estas estruturas são necessárias ao normal funcionamento das células e incluem, entre outras, as mitocôndrias, conhecidas pelo seu papel essencial no metabolismo celular, principalmente na produção de energia, mas que agora se sabe irem muito além disso.
Antibiótico turbinado
A equipe selecionou um grupo de medicamentos conhecidos pelas suas capacidades de interferir com funções básicas das células.
Entre eles, a doxiciclina, um antibiótico da família das tetraciclinas, conseguiu gerar um aumento na capacidade de sobrevivência à sepse em animais de laboratório, independentemente dos seus efeitos na carga bacteriana.
Já se sabia que a doxiciclina bloqueia o funcionamento de uma parte das células - o ribossoma das mitocôndrias, que é responsável pela produção de proteínas nestas estruturas celulares. "Descobrimos que é esta inibição da síntese de proteínas nas mitocôndrias do organismo infectado que explica o aumento da sobrevivência de camundongos com sepse, e que é independente das propriedades antibacterianas deste antibiótico," explicou o professor Luís Ferreira Moita.
Algumas classes de antibióticos apresentam benefícios que vão além das suas importantes propriedades antibacterianas, mas até agora esses efeitos adicionais nunca haviam sido explicados.
"Os resultados que obtivemos realçam que, no caso da doxiciclina, estes benefícios estendem-se até aos pulmões, onde ocorre uma diminuição dos danos nas células e a ativação de mecanismos de reparação dos tecidos. Além disso, no fígado, ocorre a ativação da resposta ao estresse e mudanças metabólicas que fomentam a proteção dos tecidos," contou o pesquisador Henrique Colaço.
A equipe afirma que estas novas informações ajudarão no desenvolvimento de novas terapias contra as infecções e doenças como a sepse, baseadas no aumento dos mecanismos de tolerância à infecção e não apenas no seu controle.
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