Multifatorial
A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) é uma das principais causas de cegueira, acometendo sobretudo indivíduos com mais de 65 anos.
Degenerativa, progressiva e decorrente de condições multifatoriais, a doença ocasiona perda da visão central de um ou de ambos os olhos e afeta a independência do idoso.
A degeneração macular relacionada à idade é uma doença que compromete a mácula, região da retina responsável pela visão detalhada, pela percepção das cores, produzindo uma mancha que prejudica a visão central tanto de perto como de longe.
Se não diagnosticada precocemente e tratada em tempo hábil, a doença gera prejuízos à qualidade de vida dos pacientes por dificultar a realização de tarefas diárias e até a locomoção.
Ela atinge basicamente a retina e a coroide, situada abaixo da retina, que constituem uma das regiões mais importantes do sistema ocular.
Células nervosas do olho
Se a córnea pode ser trocada por transplante e, nas cirurgias de catarata, o cristalino é substituído por uma lente intraocular, a retina, o nervo óptico e o sistema nervoso central relacionado à visão, uma vez danificados não podem ser recuperados.
Se as células nervosas dessa delicada área central da visão morrerem, não há possibilidade de substituí-las, uma vez que é lá que estão os fotossensores que captam a luz.
Entre os vários fatores de risco associados a ela, estão os oculares, genéticos, demográficos, nutricionais, médicos e ambientais.
Não existem estudos sistemáticos sobre esses riscos na população brasileira, embora seja importante conhecê-los com vistas à adoção de eventuais estratégias de prevenção e diagnóstico precoce da doença.
Fatores de risco para a degeneração macular
Para a médica Priscila Hae Hyun Rim, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, essa doença complexa e multifatorial envolve carga genética e fatores ambientais.
Vários genes estão associados a ela e seus portadores têm muito mais possibilidade de desenvolvê-la na velhice.
Embora a idade seja uma das causas comprovadas na manifestação da doença, a literatura menciona como fatores de risco a predisposição genética, nos casos de antecedentes familiares, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, obesidade, tabagismo, consumo de álcool, olhos e pele claros, exposição excessiva aos raios solares, dieta pobre em vitaminas, minerais e antioxidantes e sedentarismo.
O aumento da perspectiva de vida em países desenvolvidos ou em desenvolvimento determina o crescimento do porcentual de idosos e, em consequência, as doenças degenerativas passam a aparecer.
Nos estudos epidemiológicos da OMS, a degeneração macular relacionada à idade ocupa o terceiro lugar como causa de deficiência visual, antecedida pela catarata e pelo glaucoma e sucedida pela retinopatia diabética.
A catarata se resolve com cirurgia, o glaucoma é controlável com medicação na grande parte dos casos e a retinopatia diabética está atrelada ao controle do índice de glicemia.
Restou como inevitável a degeneração macular relacionada à idade.
Com efeito, já em 2010, a OMS constatou que nos países desenvolvidos a doença ocupava o primeiro lugar, até porque para ela não há cura, mesmo em países altamente desenvolvidos que dispõem de alta tecnologia e recursos para medicações. No Brasil, os tratamentos caros não são acessíveis à maioria da população.
Degeneração macular no Brasil
Segundo estimativas, 50 milhões de pessoas no mundo são portadoras da doença que, dependendo da região, atinge de 11% a 30% das pessoas com mais de 75 anos. Devido à sua complexidade, esse estudo não foi ainda realizado em termos de Brasil.
Foi isso que levou Priscila a fazer uma pesquisa junto a pacientes assistidos no serviço de oftalmologia da Universidade.
O estudo envolveu 236 participantes com mais de 50 anos, incluindo 141 afetados pela degeneração macular e 96 controles. Todos foram submetidos a exame oftalmológico completo incluindo fundoscopia, retinografia e angiografia.
Os participantes foram ainda submetidos a um questionário para o mapeamento dos fatores demográficos, antecedentes médicos e oculares, histórico familiar de DMRI, estilo de vida, hábitos de tabagismo e etilismo.
Um objetivo era caracterizar os fatores de risco, e outro era verificar o que levava a doença a desenvolver-se nos seus vários estágios de graduação, que vão da forma mais branda a mais agressiva.
Na realidade, existem cerca de 70 fatores de risco descritos na literatura, mas a pesquisadora se ateve aos mais frequentemente associados à doença.
Medidas de prevenção
Priscila descobriu que idade, história familiar positiva, doenças cardiovasculares, dislipidemia (alteração dos níveis sanguíneos de colesterol e/ou triglicérides) e sedentarismo constituem os principais fatores de risco na amostra que ela estudou.
Indivíduos com antecedentes de doenças cardiovasculares apresentaram risco aumentado no desenvolvimento da forma avançada da degeneração macular relacionada à idade e a hipercolesterolemia mostrou-se predominante naqueles com a doença na fase inicial.
Ela constatou que mais de 70% dos afetados tinham a forma avançada da doença e 52 deles apresentavam visão subnormal (19%) e cegueira (33%).
Nesse grupo, tipo de alimentação, uso de antioxidantes, etilismo, tabagismo e exposição solar não foram associados significativamente ao desenvolvimento ou à forma da doença.
A pesquisadora afirma que as doenças cardiovasculares e a degeneração macular relacionada à idade na forma avançada apresentam vários fatores de risco em comum e poderiam ser prevenidas conjuntamente por meio de programas de promoção da saúde do idoso, envolvendo combate a fatores como hipertensão arterial, diabetes, obesidade (alto IMC), tabagismo, etilismo e maus hábitos alimentares.
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