Rigidez celular
As células do câncer de mama ficam rígidas antes de adquirirem propriedades invasivas, quando dão origem à metástase, a fase mais agressiva do câncer.
A progressão do câncer de mama envolve várias fases, podendo começar com uma lesão benigna e terminar em um carcinoma invasivo, eventualmente com metástases. Apenas 20 a 50% das lesões benignas resultam em câncer, sendo que atualmente os oncologistas não conseguem prever com exatidão quais as que progridem para a fase mais agressiva.
Uma equipe do Instituto Gulbenkian de Ciência (Portugal) estava procurando sinais dentro das células que indicassem essa transição de tumores benignos para carcinomas invasivos. O foco se concentrou no esqueleto da célula - o citosqueleto -, uma complexa rede de fibras organizadas em diferentes arquiteturas que controlam o grau de rigidez da célula.
E o que eles descobriram é que o comportamento das células passa por uma fase oposta à que os cientistas acreditavam até agora.
"Anteriormente se mostrou que a invasão das células cancerígenas necessita de um 'amolecimento' das células. O que observamos agora é que, antes de se tornarem invasivas, as células passam por um estado transitório em que se tornam rígidas, o que é causado pela acumulação de fibras especializadas do citoesqueleto," explicou a pesquisadora Sandra Tavares.
Alvo anticancerígeno
A equipe portuguesa descobriu que este aumento na rigidez das células induz a atividade de proteínas que promovem a proliferação celular, levando ao crescimento dos tumores benignos. Mas, mais importante, este estado de rigidez celular dispara a progressão para um câncer invasivo.
A equipe conseguiu identificar as proteínas envolvidas neste mecanismo. Essas proteínas podem ser consideradas um sinal nas células tumorais que poderá vir a ser explorado para o desenvolvimento de terapias anticancerígenas.
"O nosso trabalho adiciona uma importante peça neste complicado quebra-cabeças de como é que o tumor da mama cresce e progride para câncer maligno. Saber o que acontece dentro das células antes destas se tornarem invasivas deverá ajudar-nos a prever, no futuro, quais os tumores benignos que são mais prováveis de metastizarem. Também pode nos ajudar a desenvolver terapêuticas mais adequadas a cada paciente," disse a professora Florence Janody.
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