Endocanabinoide
O sistema endocanabinoide parece estar envolvido no processo neurodegenerativo que acomete portadores da doença de Parkinson.
O sistema endocanabinoide - "endo" do grego interior, ou interno - é formado por um conjunto de neurotransmissores existentes no cérebro que são quimicamente semelhantes aos compostos químicos existentes na maconha (Cannabis sativa) e aos receptores cerebrais sensíveis à droga.
Segundo Andréa da Silva Torrão, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, essa associação entre os canabinoides naturais do organismo e o Mal de Parkinson poderá ajudar no desenvolvimento de novas ferramentas terapêuticas contra a doença neurodegenerativa.
"Os primeiros resultados obtidos mostram que o sistema de neurotransmissão endocanabinoide está envolvido na doença de Parkinson, mas ainda não sabemos se para o bem ou para o mal. Conhecendo melhor como ele se comporta, poderemos ir atrás de drogas capazes de pelo menos melhorar a qualidade de vida dos pacientes," disse a Dra. Andréa.
Dopamina
A doença de Parkinson é resultante da perda progressiva de neurônios que produzem o neurotransmissor dopamina, os dopaminérgicos, e estão situados em um núcleo cerebral relacionado ao controle de movimentos conhecido como substância negra.
"A substância negra faz parte de um grande complexo cerebral denominado núcleos da base. Uma das funções dos núcleos da base é a organização dos movimentos voluntários", explicou a pesquisadora.
Quando a perda dos neurônios dopaminérgicos ultrapassa 50%, começam a se manifestar sintomas como tremores de repouso, rigidez muscular, bradicinesia (lentidão de movimento) e acinesia (imobilidade). A doença também costuma causar depressão, problemas cognitivos e, em estágio avançado, demência.
Em experimentos em animais, a equipe brasileira verificou que o sistema endocanabinoide participa do processo de degeneração dos neurônios dopaminérgicos por meio dos receptores chamados CB1.
Eles então decidiram tratar os ratos com compostos canabinoides para tentar reverter o processo de degeneração neuronal.
Primeiras tentativas
Dois tipos de substâncias foram testados: os antagonistas canabinoides, que bloqueiam o receptor, e os agonistas canabinoides, drogas quimicamente semelhantes aos compostos ativos extraídos da maconha e aos endocanabinoides.
"O tratamento com o agonista canabinoide aparentemente piorou os sintomas motores e a degeneração dopaminérgica e, portanto, parece não ser uma boa opção de terapia. Já o composto antagonista, embora não tenha conseguido evitar a morte progressiva dos neurônios, conseguiu ao menos melhorar os sintomas motores nos ratos. Mas ainda não sabemos exatamente como," contou Andréa.
A hipótese, acrescentou a pesquisadora, é que, ao conseguir bloquear o aumento inicial na expressão da proteína CB1, a droga retardaria a evolução dos sintomas motores.
Na tentativa de compreender melhor os resultados, os pesquisadores estão agora realizando estudos sobre a ação das drogas em culturas celulares, uma situação mais simples e que pode apontar caminhos para novos testes em animais.
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