17/12/2018

Brasileiros sintetizam substância que elimina vírus da hepatite C

Redação do Diário da Saúde
Brasileiros sintetizam substância que elimina vírus da hepatite C
A figura mostra na parte superior (baixas concentrações do material): 1) HCV; 2) Interação do AG-Hecate com o envelope viral, destruição do vírus e liberação do material genético (+ssRNA); 3) Interação do AG-Hecate com a membrana da célula hospedeira e permeabilização do peptídeo; 4) Gota lipidica; 5) Interação do composto com as gotas lipídicas, com consequente desestruturação das mesmas liberando as proteínas do complexo de replicação. E, na parte inferior (altas concentrações do material): 1) Interação do composto com a membrana plasmática da célula hospedeira e disrupção com consequente morte celular; 2) Interação com o envelope viral e destruição do vírus.
[Imagem: Paulo Ricardo da Silva Sanches]

Bioconjugação

Um novo composto que inibe a replicação do vírus da hepatite C (HCV) em diversos estágios de seu ciclo - e é capaz de agir também em bactérias, fungos e células cancerosas - foi sintetizado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

"O que fizemos foi combinar moléculas já existentes, por meio de síntese em laboratório, para produzir novos compostos com potencial biológico. Esse método é chamado de bioconjugação. Por meio da bioconjugação, sintetizamos seis compostos e os testamos nos genótipos 2a e 3a do HCV. E conseguimos chegar a um composto com grande potencial terapêutico," disse o professor Paulo Ricardo da Silva Sanches.

O vírus da hepatite C apresenta uma grande variabilidade genômica, com pelo menos seis genótipos principais, cada qual com subtipos. Os genótipos 2a e 3a são os subtipos mais comuns do HCV circulante. O composto capaz de destruí-los - o AG-hecate - foi sintetizado a partir do ácido gálico e do peptídeo hecate.

"Descobrimos que esse composto atua em quase todas as etapas do ciclo replicativo do HCV - o que não é uma característica comum nos antivirais. Esses geralmente têm alvos pontuais e isolados, como proteínas do capsídeo, receptores de membranas ou proteínas específicas como a NS3, inibindo processos específicos como a entrada do vírus nas células, a síntese do material genético e de proteínas, a montagem e liberação de novas partículas virais. O AG-hecate, ao contrário, apresentou ampla atividade, agindo em diversas etapas do ciclo.

"O composto também apresentou atividade nas chamadas "gotas de lipídeo", no interior das quais o vírus circula nas células e que o protegem do ataque de enzimas. O AG-hecate desestrutura essas gotas de lipídeo e deixa o complexo replicativo do vírus exposto à ação das enzimas celulares", explicou Paulo Ricardo.

Bactérias, fungos e câncer

E o composto sintetizado pela equipe brasileira é ainda mais versátil do que os pesquisadores esperavam.

"A ótima notícia é que essa molécula não age apenas no HCV. Pode agir também em bactérias, fungos e células cancerosas. Além disso, como os vírus do zika e da febre amarela apresentam ciclos replicativos bastante parecidos com o do HCV, vamos testar a efetividade do AG-hecate também em relação a esses vírus," detalhou o professor Eduardo Maffud Cilli.

No caso do câncer, a molécula interage e destrói a membrana da célula afetada. A seletividade da ação do AG-hecate deve-se ao fato de que a célula modificada pelo câncer tem uma quantidade maior de cargas negativas na superfície do que a célula normal. E o peptídeo tem carga positiva. Então, a ação se dá por atração eletrostática.

A equipe agora está trabalhando para reduzir a toxicidade da substância para reduzir seus potenciais efeitos colaterais.

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