12/01/2017

Brasileiros identificam substância para tratar retinopatia e câncer

Com informações da Agência Fapesp

Retinopatia e câncer

Pesquisadores brasileiros identificaram uma substância com potencial para tratar o câncer e a retinopatia.

O peptídeo sintético, identificado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), demonstrou a capacidade para inibir o crescimento patológico de novos vasos sanguíneos, um processo que ocorre em doenças como a retinopatia e o câncer.

"O peptídeo ainda não é um fármaco, mas pode servir de modelo para o desenvolvimento de um novo inibidor de angiogênese", disse o professor Ricardo José Giordano, cuja equipe divulgou os resultados na revista Science Advances.

Angiogênese

A angiogênese é o processo de formação de novos vasos sanguíneos a partir de outros já existentes. Ele pode ocorrer de maneira fisiológica normal, durante um processo de cicatrização ou quando há aumento na demanda de oxigênio e nutrientes em um determinado tecido.

No caso da retinopatia diabética, o excesso de glicose no sangue induz um desenvolvimento excessivo e desorganizado dos vasos da retina - causando lesões no tecido e podendo comprometer a visão. Já em alguns tipos de câncer, o tumor libera mediadores que induzem uma intensa angiogênese para aumentar o aporte de oxigênio e nutrientes para as células malignas continuarem a se proliferar descontroladamente.

Os principais mediadores envolvidos no processo de angiogênese são quatro proteínas da família VEGF (fator de crescimento endotelial vascular, na sigla em inglês): VEGFA, B, C e D, que precisam se ligar a receptores específicos existentes na superfície das células - as proteínas VEGFR-1, 2 e 3 - para que seja disparada uma cascata de sinalização intracelular e o processo de formação dos novos vasos tenha início.

"O peptídeo que descrevemos no estudo, cuja sequência de aminoácidos é PCAIWF, mostrou-se capaz de se ligar aos três receptores de VEGF na superfície da célula, bloqueando a ação de toda a família de proteínas," contou o pesquisador.

Brasileiros identificam substância para tratar retinopatia e câncer
Imagens de microscopia mostram a diferença na espessura da camada vascular na retina dos seguintes grupos (sentido horário): animais sem retinopatia; animais com retinopatia induzida tratados com o peptídeo; animais com retinopatia tratados com placebo e animais com retinopatia sem tratamento.
[Imagem: Jussara S. Michaloski et al. - 10.1126/sciadv.1600611]

Menos efeitos colaterais

Atualmente, há no mercado o biofármaco injetável bevacizumab, que age neutralizando a ação do VEGFA. "Trata-se de um anticorpo monoclonal que neutraliza a ação da proteína mais importante para o processo de angiogênese e tem sido usado para tumores de cólon, rim, gliomas e também no tratamento da retinopatia. Mas é um medicamento caro. Custa cerca de R$ 5 mil a dose e são necessárias injeções mensais," contou Giordano.

Outra opção é o fármaco sunitinibe que, embora tenha a vantagem de ser administrado por via oral, apresenta mais efeitos colaterais por ter ação sistêmica. "Ele age na porção intracelular dos receptores de VEGF e acaba afetando também outras proteínas parecidas, como o receptor da proteína PDGF [fator de crescimento derivado de plaquetas, na sigla em inglês]. Sem a ação da PDGF, o vaso fica mais frágil e hemorrágico, o que pode afetar principalmente o coração", explicou o pesquisador.

Já o novo peptídeo PCAIWF, explicou Giordano, age na porção extracelular dos receptores de VEGF - parte em que essas proteínas são mais diferentes de outras da mesma classe (tirosinas quinases). Ainda assim, na avaliação do pesquisador, os riscos de efeitos adversos não são desprezíveis se a administração for por via oral, pois a droga pode afetar o processo fisiológico de angiogênese em outros tecidos.

"Estamos agora tentando identificar, em modelos animais, genes que são expressos apenas na angiogênese patológica, o que pode abrir caminho para o desenvolvimento de fármacos ainda mais seletivos", comentou Giordano.

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