Oropouche
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) lideraram uma equipe internacional que descobriu a estratégia usada pelo vírus oropouche para se replicar dentro de células humanas.
"São patógenos importantes do ponto de vista da saúde pública. No Brasil, apenas o oropouche causa doenças, mas em outras regiões do mundo também são endêmicos o vírus da encefalite de La Crosse e o Crimeia-Congo, causador de febre hemorrágica. Há também membros dessa família que causam doenças em gado," explicam Natália Barbosa e Luis Lamberti da Silva, referindo-se aos vírus da família Peribunyaviridae.
No caso do oropouche, os sintomas são parecidos com os da dengue: dores nas articulações, na cabeça e atrás dos olhos, além de febre aguda. A diferença é que, em cerca de metade dos casos, ocorre uma recidiva da doença após a melhora dos sintomas.
O vírus é transmitido por um mosquito de hábitos urbanos, o Culicoides paraenses, popularmente conhecido como borrachudo ou maruim. Estima-se em mais de meio milhão os casos de infecção por oropouche em surtos ocorridos em vilarejos e cidades da Amazônia, mas ele tem aparecido também em outras regiões do país, sendo considerado por especialistas um vírus emergente.
"Certamente essa doença é subnotificada, sendo muitas vezes confundida com outras arboviroses. É considerada de baixa gravidade, mas o preocupante é que ainda não sabemos quais as possíveis consequências da infecção para o sistema nervoso no longo prazo", disse Luis.
Complexo de Golgi
O que os pesquisadores descobriram é que, logo após invadir a célula, o patógeno "sequestra" a organela conhecida como complexo de Golgi, que se transforma em uma verdadeira fábrica de vírus. Para isso, o oropouche recruta complexos proteicos da célula hospedeira chamados ESCRT (pronuncia-se "escort"), que têm a capacidade de deformar a membrana do complexo de Golgi, permitindo a entrada do genoma viral.
Constituída por dobras de membranas e vesículas, essa organela tem como função primordial o processamento, armazenamento e distribuição de proteínas produzidas nos ribossomos.
"Essa forma de sequestro do complexo de Golgi, por meio do uso de proteínas ESCRT, nunca havia sido demonstrada para nenhum outro vírus. É uma descoberta que aponta novos alvos a serem explorados na tentativa de barrar a infecção", disse Natália.
Um dos objetivos do grupo agora é investigar quais são as proteínas produzidas pelo oropouche para recrutar o complexo ESCRT. "Elas também seriam potenciais alvos a serem explorados para barrar a infecção", disse Luis.
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