Automedicação animal
Se você ver uma grande abetarda (Otis tarda) na natureza, é improvável que a esqueça. Enormes, coloridas e impossíveis de confundir com outras espécies, estas são as aves mais pesadas da atualidade capazes de voar, e com a maior diferença de tamanho entre os sexos.
Mas parece que as abetardas têm uma outra característica digna de nota: Elas procuram ativamente duas plantas com compostos que podem matar patógenos que as infectam.
As abetardas podem ser, portanto, um raro exemplo de uma ave que usa plantas contra doenças - ou seja, um animal que faz automedicação.
"Aqui mostramos in vitro que as abetardas preferem comer plantas com compostos químicos com efeitos antiparasitários," disse o Dr. Luis Sopelana, do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madri (Espanha).
Plantas preferidas da abetarda
Já se suspeita há muito tempo que alguns animais façam automedicação, incluindo, com menor ou maior grau de confiança, primatas, ursos, veados, alces, araras, abelhas e moscas-das-frutas. Mas é complicado provar isso sem dúvida em animais selvagens.
A equipe espanhola então coletou um total de 623 excrementos de abetardas fêmeas e machos, incluindo 178 durante a época de acasalamento, em abril. Sob o microscópio, eles conseguiram contar a abundância de restos reconhecíveis (tecidos de caules, folhas e flores) de 90 espécies de plantas que crescem localmente e são conhecidas por estarem no cardápio das abetardas.
Os resultados mostraram que duas espécies são comidas pelas abetardas com mais frequência do que o esperado pela sua abundância: papoula do milho (Papaver rhoeas) e flor-roxa, (Echium plantagineum).
Dessas duas espécies, a primeira é usada na medicina tradicional como analgésico, sedativo e reforço imunológico, mas não é comida pelo gado. A segunda é tóxica para humanos e bovinos se ingerida em grandes quantidades. Elas também têm valor nutricional: ácidos graxos são abundantes em sementes de papoula de milho, enquanto as sementes da flor-roxa são ricas em óleos comestíveis.
Efeito medicamentoso
A seguir, os pesquisadores isolaram compostos solúveis em água e gordura de ambas as espécies de plantas e usaram diversas técnicas para catalogar sua identidade química. Eles descobriram que as papoilas de milho são ricas em alcalóides bioativos, como roeadina, roeagenina, epiberberina e canadina.
E os extratos de ambas as plantas mostraram-se altamente eficazes em inibir ou matar três parasitas comuns que acometem as abetardas: O protozoário Trichomonas gallinae, o nematoide (verme parasita) Meloidogyne javanica e o fungo Aspergillus niger.
Os cientistas concluem que as abetardas são as principais candidatas a aves que procuram plantas específicas para se automedicar, mas mais pesquisas em outras populações da ave são necessárias para confirmar que essa busca se dá pelo interesse em se curar dos parasitas ou ficar mais forte para a época do acasalmento.
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