Sépsis e câncer
Pesquisadores portugueses descobriram que alguns medicamentos anticancerígenos também restringem a inflamação, o que os coloca como potenciais tratamentos para a sépsis, uma inflamação generalizada que mata tanto ou mais que o próprio câncer.
A reação exagerada do organismo à infeção, a condição designada por sépsis, mata milhões de pessoas por ano porque, para sobreviver a uma infeção grave, não basta conseguir eliminar o agente infecioso, o que atualmente é feito de forma relativamente eficaz: É também necessário limitar os danos que este agente e a resposta imunológica provocam nos órgãos.
Foi esta segunda componente, que ainda não faz parte da intervenção terapêutica na sépsis, que chamou a atenção do Dr. Ângelo Chora e seus colegas do Instituto Gulbenkian de Ciência.
Eles encontraram a potencial solução para proteger os órgãos contra a sépsis em um grupo de fármacos frequentemente utilizados no tratamento do câncer: as antraciclinas.
A equipe já havia descoberto que estes fármacos conseguem evitar a falência de órgãos em animais de laboratório com sépsis sem afetar a carga do agente infecioso. Esta descoberta inspirou um ensaio clínico, atualmente em andamento na Alemanha, para avaliar se a administração de antraciclinas tem uma influência positiva no curso da sépsis e se reduz o risco de morte dos doentes.
Quimioterápico contra inflamação
Para tirar o máximo partido destes fármacos, contudo, era necessário compreender como é que eles conferem tolerância à infecção. Foi nesta área que a equipe fez novos avanços, mostrando que estes medicamentos anticancerígenos não só conseguem limitar a quantidade de mediadores pró-inflamatórios produzidos pelas células, como bastam doses muito reduzidas para se obter este efeito.
"Descobrimos que as antraciclinas controlam genes inflamatórios importantes nas células do sistema imunitário," explicou a professor Ana Neves-Costa, coordenadora da equipe. Uma vez que formam complexos com o DNA das células, os quimioterápicos impedem a ligação de fatores necessários para a expressão destes genes. Como resultado, as células produzem menos moléculas inflamatórias.
"Este novo mecanismo é particularmente importante porque exclui os efeitos secundários causados pela administração de doses elevadas destes compostos na quimioterapia," acrescentou Ana.
A descoberta deste mecanismo abre caminho para que as antraciclinas sejam usadas também para tratar outras doenças causadas por uma resposta inflamatória exagerada, como a artrite reumatoide.
"Uma vez que já são recorrentemente utilizados na prática clínica para o tratamento do câncer, reaproveitar estes fármacos será bastante mais fácil do que começar do zero. É provável também que a regulação da expressão genética e a limitação da inflamação descritas neste estudo sejam fatores importantes, e até agora desconhecidos, para a eficácia das antraciclinas no tratamento do câncer," disse o Dr. Luis Moita, membro da equipe.
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