Efeito colateral ou desnecessário
Há uma crença generalizada nas comunidades médica e científica - e, por decorrência, entre a população - de que antibióticos são medicamentos benignos e que só podem fazer bem.
Não foi o que se verificou em um levantamento realizado entre 1.500 pacientes adultos admitidos no Hospital Johns Hopkins, um dos mais renomados dos EUA. Entre esses pacientes ambulatoriais, escolhidos ao acaso, cerca de um quinto apresentou efeitos colaterais adversos decorrentes do uso dos antibióticos receitados pelos médicos que os atenderam.
E, coincidentemente, quase um quinto desses efeitos colaterais ocorreram em pacientes que não precisariam sequer ter tomado antibióticos.
O relatório, publicado pela revista médica JAMA Internal Medicine, vem-se somar a um crescente corpo de evidências de que esses medicamentos não são benignos e que os médicos muitas vezes não conseguem pesar os riscos e os benefícios dos antibióticos antes de prescrevê-los.
"Muito frequentemente, os clínicos prescrevem antibióticos mesmo que tenham uma baixa suspeita de uma infecção bacteriana, pensando que, mesmo que os antibióticos não sejam necessários, provavelmente não serão prejudiciais," comentou a Dra. Pranita Tamma, uma das responsáveis pelo relatório. "Mas nem sempre é assim. Os antibióticos têm o potencial de causar danos reais aos pacientes. Cada vez que pensamos em prescrever um antibiótico, precisamos parar e nos perguntar, 'Esse paciente realmente precisa de um antibiótico?'"
Efeitos colaterais dos antibióticos
Tamma e seus colegas avaliaram os registros médicos eletrônicos de 1.488 adultos admitidos por razões que variavam de traumatismo a doenças crônicas, mas todos tendo recebido pelo menos 24 horas de tratamento antibiótico.
Os pacientes foram acompanhados durante 30 dias após a alta hospitalar para determinar a probabilidade de uma reação adversa aos antibióticos e para identificar quantas reações adversas poderiam ser evitadas eliminando o uso desnecessário de antibióticos.
A conclusão é que 20% dos pacientes que receberam antibióticos tiveram um ou mais efeitos adversos, destacando que, para cada 10 dias adicionais de antibióticos, o risco de efeitos colaterais aumentava 3%.
Os efeitos colaterais mais comuns experimentados pelos pacientes foram anormalidades gastrointestinais (42%), renais (24%) e circulatórias (15%).
"Se o paciente desenvolve uma reação adversa associada aos antibióticos, embora seja, é claro, infeliz, temos que nos assegurar de ter algum conforto em saber que pelo menos o antibiótico era verdadeiramente necessário," finalizou Tamma.
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