Comparação de anestesias
Uma pesquisa feita na Universidade Estadual Paulista (Unesp) investigou o efeito dos dois anestésicos inalatórios mais usados - o isoflurano e o servoflurano - na reação inflamatória desencadeada no organismo após uma cirurgia.
A investigação foi feita em ratos submetidos a um procedimento para a retirada de um dos rins e revelou que a droga isoflurano causou maior liberação de uma das substâncias inflamatórias avaliadas.
"Quando passamos por uma cirurgia, o organismo entende que está sofrendo uma agressão e libera as chamadas citocinas inflamatórias. Elas ativam a coagulação sanguínea e ajudam a evitar hemorragias", explicou Norma Sueli Pinheiro Módolo, coordenadora da pesquisa.
Segundo Norma, essa reação é esperada mas não pode ser exagerada por causa do risco de trombose.
Um estudo recente, realizado na Alemanha, mostrou um preocupante aumento do número de óbitos em decorrência das anestesias.
"Estamos tentando descobrir um anestésico capaz de modular a resposta inflamatória. Ela não pode ser anulada, pois o paciente sofreria hemorragia. Mas também não pode ser muito exacerbada pela droga. Isso é importante principalmente em pacientes de maior risco, como cardiopatas", disse.
Anestésicos
Para comparar o efeito das duas substâncias, 16 animais foram divididos em dois grupos. Metade recebeu isoflurano e os demais, servoflurano.
Amostras de sangue foram colhidas em quatro momentos diferentes: antes da aplicação dos anestésicos (M0), uma hora após a anestesia (M1), meia hora após a cirurgia (M3) e 24 horas após a cirurgia (M4).
"Medimos cinco diferentes citocinas inflamatórias: o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), o interferon gama (INF-γ) e as interleucinas 12, 6 e 10. Com exceção da interleucina 10, que tem ação anti-inflamatória, as demais são todas pró-inflamatórias", contou Norma.
O resultado dos testes mostrou que as drogas causaram alteração significativa apenas na liberação do TNF-γ e principalmente no grupo que recebeu a droga isoflurano.
O TNF-γ é a primeira citocina liberada após uma lesão e tem a missão de ativar a chamada cascata inflamatória no organismo.
"Em uma situação de trauma ou infecção, ela induz febre, ativa a coagulação, causa vasodilatação sistêmica e pode levar à hipoglicemia", explicou Norma.
Resposta imunológica
A pesquisadora ressalta, no entanto, que a investigação foi feita em animais sadios.
"Imagino que um paciente hígido submetido a uma cirurgia relativamente simples não teria problemas com nenhum dos dois anestésicos. Mas em pessoas obesas, que já possuem mais substâncias inflamatórias no organismo, ou em cardiopatas, pneumopatas e recém-nascidos, talvez esses anestésicos possam causar uma resposta inflamatória mais exacerbada," disse.
A equipe pretende seguir essa linha de investigação, primeiro avaliando o efeito das drogas em ratos com problemas de saúde e, no futuro, em seres humanos.
"Também queremos investigar a ação de outros anestésicos, inclusive os endovenosos", disse Norma.
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